É Hora do Chá

É Hora do Chá. Que importa mais que isso? Se o relógio bate doze horas, se a bomba cai pela manhã, se o palhaço chora? Não. Porque É Hora do Chá. É hora do chá e eu espero pela fada, pela ninfa das camélias, pelo perfume das noites claras.

Ela vai chegar, eu sei, eu sei que vai. Ela vai chegar porque É Hora do Chá. Todas as noites, feriados e domingos, todos os sábados, todas as segundas-feiras. Semanas de prova, meses de férias, É Hora do Chá e é isso que importa.

Olho para o céu; abro asas, voo. Voo para o além, onde ela me espera. Sei que está lá, sei que vai me segurar, e quando o ar faltar, é ela quem vai me beijar. Porque É Hora do Chá. É a hora do sorriso. É a hora do abraço. É a hora e por isso nós ficaremos juntos.

Já É Hora do Chá. Eu sei que ela virá. Porque já disse, sempre vem, sempre vem a ninfa das camélias. Com a sua coroa, com seu cabelo enrolado (mas só um pouco enrolado), na Hora do Chá. O que eu digo, o que eu sempre digo, metáforas não são.

Metáforas não são: são catacreses. Faço Letras, você não? Pois posso dizer: são catacreses. Preenchem a lacuna que faltava no idioma. Que palavra eu diria para descrever presença tamanha? Ah, nenhuma há. Só com catacrese para tal façanha.

É Hora do Chá. Quem não viu, não vai ver. Quem já viu, mentiu. Nosso magno segredo está na Hora do Chá. É quando damos as mãos, é quando beijo sua face, é quando falamos do dia, é quando brincamos com gatinhos. Gatinhos. Gatinhos... não estamos mais sozinhos.

Hoje é Hora do Chá. Como foi todos os dias. É hora de nos vermos, é hora de conversarmos. Como passou? Como foi o seu tempo? É na Hora do Chá que eu fico sabendo a respeito.

É Hora do Chá. Deixe eu contar: tive mil aventuras, mas só com você tive alturas. Se vi um inseto diferente, se ouvi uma conversa proseada, se li uma poesia, é para você que vou contar. Porque É Hora do Chá e você que é minha parceira. É Hora do Chá e eu sei que você virá. Se não hoje, amanhã. Ou depois, ou outrora. Eu sempre estarei esperando até as três horas.

27/6/2016