As Vestes...

As Vestes...

Eu caminhava com alguma dificuldade pelo terreno acidentado próximo a encosta da grande montanha. Lá, acima, no topo do mirante podia-se ver o cume coberto de neve perene, que reluzia aos raios de sol. De lá, dava para contemplar a montanha abrasada pelos fulgores do sol poente, de magnífica beleza. Admirava, extasiada, o pôr do sol que caia como mel dourado na linha do horizonte, banhando toda a superfície montanhosa. Abismada na contemplação deste espetáculo fiquei surpresa ao olhar para baixo e deparar-me com o imenso prado que se descortinava à minha frente. O grande tapete verde da pradaria, coberto de pequeninas flores brancas silvestres, tremulava com a brisa como num aceno de adeus. As nuvens arrastadas pelo vento brincavam de pega-pega galgando as montanhas, deixando-as escurecidas para depois mergulharem nos espaços dos prados embebidos de água, carregadas de algas esverdeadas. Por instantes o topo da montanha desaparecia em meio às efêmeras nuvens flocosas que se formavam sobre as encostas do grande monte. Voltava em seguida e só desapareceria por completo ao anoitecer sob o negro véu noturno. O silêncio era quebrado apenas pelo vento que batia em meus ouvidos produzindo um sussurro, sibilante, dando-me a idéia de que anjos brincavam comigo. Meu corpo em êxtase era tomado de uma profusão de coragem e de energia que parecia vir de uma fonte inesgotável, tirando-me a noção de tempo. Por minutos ou foram horas, estive meditando na amplidão do universo. Quão poderosa força regia tal dimensão mantendo-a primorosamente em seu devido lugar. Comandando cada detalhe do intrincado conglomerado de astros e estrelas, que nenhuma ciência por mais desenvolvida que fosse, poderia explicá-la.

A manhã despontou e eu me achava encolhida numa mini barraca que apenas impedia o frio de congelar-me. Do lado de fora da barraca vislumbrei a aurora que encantava a manhã com seu manto alaranjado. Numa dança esvoaçante estendia-se por toda a terra cobrindo-a das cores do arco-íris. Visão magnífica para uma mortal, digna dos anjos, que muitas vezes tornava-se cética a ponto de questionar a sua própria existência. Destemida, mas ansiosa, eu queria encontrar algo mais que me levasse a tocar o epicentro da fé, encontrar a gênese de Deus intrincada em mim. O sol apenas começava a despontar no horizonte e os raios, ainda tímidos, batiam esmaecidos no pico congelado provocando faíscas. Em minha simples noção de humildade eu disse: Se fostes capazes de criar tão magnífica maravilha, Tu és um Deus fantástico, mostre-me um pouquinho de Sua grandiosa majestade, porque preciso encontrar-Te em mim. Nesse momento o sol despertou por completo e inundou os montes à minha volta. Olhei para minha montanha e tive a nítida certeza que ela estava em chamas. Caí de joelhos perante a minha pequenez. Trêmula, perante tão grandiosa maravilha, naquele momento, eu tivera a certeza que acabara de vislumbrar as vestes de Deus.

Ester M. Endo.

mendo
Enviado por mendo em 02/08/2007
Código do texto: T590363