Surpreendo a surpresa

Houve momentos em minha vida, aos quais eu pensava saber de quase tudo daquilo que me cercava, pensava saber de tudo daquilo que vivia, pensava saber até daquilo que sentia.

Tempos depois, atravessei uma fase difícil de minha vida e desde então eu passei a não querer saber sobre qualquer coisa que me cercasse, sobre aquilo que vivia ou até mesmo sobre as coisas as quais sentia.

Passei a, simplesmente, viver cada dia como se me apresentava, sem fazer planos, sem dar respostas para as coisas das quais eu não poderia afirmar ou poderia negar.

Nesse amadurecimento, eu passei a aceitar as pessoas como elas são, sem ter grandes expectativas em torno delas, por ter aprendido que as pessoas não são exatamente aquilo que dizem ser; não são exatamente aquilo que mostram ser através de suas atitudes e muito menos são aquilo que parecem ser.

Então, o que elas são? Eu não sei. Eu não tenho a menor ideia do que elas sejam.

Para as pessoas que me conhecem, talvez esse meu novo jeito de ser possa até frustrar suas expectativas em torno daquilo que esperam de mim, em prol de si mesmas.

Na verdade não é um jeito de ser muito comum, eu reconheço. As pessoas gostam de agradar umas as outras dizendo até mesmo tudo aquilo que não sentem. Não é o meu caso que já me decepcionei tanto com as pessoas que me pareciam ser as melhores do mundo, que passei a esperar mais delas. Sendo assim, deixo transparecer menos as minhas convicções.

Na verdade, o meu modo de ser, não modifica em nada a maneira de agir daqueles que me cercam. Assim como nunca modificou antes, quando eu as via melhores do que elas eram.

Atualmente, eu observo melhor o jeito de ser daqueles com quem convivo; daqueles que me cercam; daqueles que tenho contato por necessidade, contato por opção, contato por prazer, contato por dever.

Atualmente, eu espero menos de mim em relação a quem quer que seja.

Eu mudei por ter me decepcionado com aquelas pessoas que não sabiam em que conceito eu as tinha, antes de me ferirem. Ou talvez por saberem e não se importarem.

O que eu sei é que depois de aprender a andar não dá mais para voltar a engatinhar sem fingir que não se aprendeu a andar.

Eu jamais abriria mão de ser uma pessoa autêntica.

Meus sentimentos continuam a ser intensos e profundos.

Entretanto as minhas declarações de amor são mais cautelosas.

O meu olhar é mais apurado.

O meu coração é menos ocupado, pois nele eu somente quero aquelas pessoas que realmente mereçam estar nele.

A idade me tornou uma pessoa seletiva em meus próprios sentimentos, que já foram ingênuos e por isso muito sofreram.

Eu sei que não estou livre de sofrer novamente. O sofrimento é um sentimento que adora fazer surpresa.

O que mudou é que eu não me surpreendo tanto quanto eu me surpreendia antes, com surpresas.

As vezes, eu mesma as surpreendo.

Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 12/03/2017
Código do texto: T5938620
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