CAATINGAS E CHAPADÕES
Caatingas e Chapadões
Francisco de Assis Iglésias
Apêndice Fls 392/393 - FLOR DO TEMPO
No começo o terreno é plano e coberto de mata rala de angicos, jatobás e palmeiras nas beiras dos córregos. As dez horas passamos por um grupo de moradas chamado Buritizinho. Como era ainda cedo para o almoço, seguimos para diante. Subimos pelo lombo pedregoso de suave colina. Na chapada, sob verdejantes cajueiros, descortinei modesta vivenda.
- Ó de casa - Gritou o pajem.
- Ó de fora - respondeu uma voz feminina - podem chegar.
Apeamos e o Zé foi tomar as providências costumeiras. Eu, como sempre, dava início as relações diplomáticas.
Perguntavam meu nome e eu por minha vez também perguntava o nome de quantos me rodeavam.
- Como se chama esta morada?
- Flor do Tempo - respondeu-me graciosa morena de olhos verdes.
- Que nome lindo - exclamei com sinceridade.
A morena sorriu e corou, abaixando levemente os longos e sedosos cílios.
- Flor do Tempo ... é flor que nasce por ai, ao Deus dará, sem que olhos humanos contemplem sua beleza peregrina...
- Flor do Tempo... milagre da natureza que esbanja prodigamente seu aroma delicioso em ambiente calcinado pelos raios solares, ao lado de vegetais rasteiros e insignificantes...
- Flor do Tempo... é flor que os anjos, brincando de jardinagem, semearam e o capricho da fecundidade fez nascer em outeiro desolado...
- Flor do Tempo ...é um lírio do campo que suplica ao viandante que o leve, antes que as rudes patas da alimária o esmaguem...
- Flor do Tempo... é uma flor e nada mais...
Aquela humilde morada, pela magia do seu poético nome transformou-se aos meus olhos - olhos da alma, um palácio encantado.
- Flor do Tempo...
- Patrão, o almoço esta pronto.
Era Zé Cartucheiro que me interrompia o sonho...
Tino
Enviado por Tino em 14/10/2005
Código do texto: T59504