Esse texto não tem nome. Mas poderia se chamar Answer.

Mais um dia frio e uma mensagem sua chega. Uma curtida. Na era virtual de futilidades e efemeridade de assuntos, opiniões e impressões, uma simples curtida vale ouro. Vinda de você, ouro cravejado de diamantes. E eu coloco aquela música pra tocar. Aquela que já citei em outro texto que também falava sobre você. E começo a escrever. Do mesmo jeito. Com as mesmas palavras. E não sei se com os mesmos sentimentos. Mas assim, com pontos separando frases curtas. Que de repente ficam menores. E viram palavras. Sozinhas. Frias. Com vontade de serem aquecidas. Naquele abraço cheio de roupas. No sol de um céu azul sem nuvens. Com vento gelado. A música chega no meio. Um solo. Eu coloco o outro fone e aumento o volume. Os solos são sempre as melhores partes pra mim. E o som dessa guitarra nem é dos que mais gosto, porque sim, como vários mortais leigos na música o som de uma Tele não me comove como o de uma Strato ou de uma 335. Não, se não fosse nessa música. E se não fosse dele. Mas é dele, que pra mim, é um ás na arte de fazer blues jazzístico suingado melódico nostálgico pra sempre me fazer lembrar de você. Ouvir as músicas dele é me remeter a você. Assim. Simples. Ponto. E agora me lembro da Páscoa com o melhor chocolate. Tenho comido tanto chocolate ultimamente. E isso não é nada de que me orgulhe. Ainda mais porque nenhum chocolate vai superar aquele. Nem os belgas que estão tanto na moda. Nem os suíços que provei na fonte. Porque naquele chocolate estava embutida a melhor música. As minhas melhores palavras. E a lembrança da árvore de Natal mais original. A música acaba. Procuro outra. Parecida. Não encontro porque essa é única. Mas permaneço no mesmo álbum porque ele é inteiro uma obra-prima. E, então, me lembro de todos os outros textos. Daquele que falava sobre o outro dia frio do início do texto, sobre fumaça que sai da boca e dedos entrelaçados em mãos de luvas. O mesmo texto, talvez. Enfim, acho que estou escrevendo em círculos. O mesmo círculo. Vicioso. De sempre. Quando o assunto é você é sempre assim. Um vai e vem sem fim de sentimentos e dúvidas e perguntas sem repostas. Ou com algumas que não são as melhores. Se é que você me entende. O álbum continua. Escuto outras. Passo. Passo. E passo. Essa porque é muito animada. Essa porque é deprê demais. Não é disso que estou falando. Não são esses os sentimentos. Entende? Não agora. O clima não é de tristeza. Nem de alegria. É de incertezas e nostalgia. É de nunca saber como teria sido se o “se” tivesse se tornado no “quando” e no “como”. Mas ele nem é “se” mais. E nunca será o “quando” e nem o “como” porque nunca seremos. Nunca. E aqui não cabe a máxima de nunca poder dizer nunca. Porque o nunca cai como uma luva pra nós. Volto à mesma. Escuto mais uma vez. Essa que é uma das que entram na minha alma quando escuto. Porque é assim que descrevo uma música quando quero que alguém entenda que ela é realmente boa. Que ela é uma das melhores. Que eu tenho vontade de abraçar quem a escreveu. E agradecer. Por existir. Por ter sido genial compondo. Por ter me dado uma forma de sacramentar um sentimento. Uma época. Um relacionamento. Uma pessoa. Porque essa sim imprime. Carimba. Tatua. Assina embaixo. Justamente porque é triste na medida. É nostálgica na medida. É blues na medida. É a resposta um pouco mais bonita pra pergunta que te fiz um dia. E hoje, porque a sua curtida me fez relacionar as duas músicas, eu entendo. Entendo que a resposta sempre foi a mesma. A que eu sempre soube que teria e que por um tempo insisti em fingir que não. Vejo a mensagem me relatando sua curtida de novo. Faz uma hora. E eu já nem escuto a mesma música mais. Escuto outra. A sua. E chego ao final desse texto assim, feliz por perceber que hoje gosto um pouco mais de Answer do que de You Got Me Knockin’.

PS. Está no repeat.

PPS. Até um PS esse texto pediu. Pra ser assim, um exemplar original meu falando sobre você, como quase todos os outros todos que já escrevi. 9 anos de silêncio desfeito.