um recorte sobre esperança

eu que desenhei a paisagem

para os teus olhos ciganos

e que de alguma forma

meio sem querer

percebi teus pequenos deslizes

não te julgo,

nem te acolho mais

que o suficiente

para encostar na tua boca

palavras grandiosas

sobre o futuro do mundo

e de como você não está só,

mas está e você sabe.

todos estamos.

você e eu que somos muitos

outros em nós

que tentamos sobreviver

inteiros ao grasnar

dos corvos ao meio-dia,

que sentimos aquela

onda quente como um bafo

azedo e amanhecido

subindo

pelo asfalto e os carros

e as próprias aves negras

em pleno vôo

choram e lamentam

por nós, eu suspeito.

e tremo.

você mais do que eu

inventou um jeito mais bonito

de não se sentir só

um esquema quase infantil

de sentir-se grande

e conectado com as coisas

de fora e as angustias do mundo.

uma forma de também olhar

para dentro. talvez

acho que até você tem

dias chuvosos

e raios furiosos na cabeça,

pois te vi tão triste hoje

pelos corredores

e eu quis mesmo acreditar

que vai ficar tudo bem,

tudo certo. e que no fim

nos salvaremos todos.

Vini Miranda
Enviado por Vini Miranda em 18/09/2017
Código do texto: T6118012
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