A árvore de palavras e arte

A árvore de palavras e arte

Num dia quente, sentar à sombra duma árvore e sonhar é algo de uma

simplicidade ímpar. As cascas da mangueira apoiam nossas costas e a grama é nosso tapete. Uma sensação única ficar por ali com um livro em nossas mãos. De repente uma amora tinge nosso nariz. Tisbe e Píramo ficam roxos. Um sanhaço come a goiaba. Eis o pássaro azul. Vira-se a página e ouve-se o canto da cotovia. Ergue-se a cabeça altivo como imperador pensando ouvir o rouxinol. Uma emoção forte. Flechada no peito. Ouve-se o som do uirapuru.

Estica-se os braços e pega-se uma flor. Bem-me-quer, mal-me-quer...

Brigamos com a rosa despedaçada. Onde está o trevo de quatro pétalas? Sorte! Está chovendo! Uma tempestade enorme! O navio vai afundar. Remamos com um pedaço de pau. O capitão perneta grita conosco. Ficamos com raiva e o atiramospara a baleia gorda. A chuva passou. O arco-íris apareceu. No final dele, um pote de ouro. Mergulhado na riqueza, vou plantando árvores. No meio do caminho,

pulando as pedras, encontramos outros plantadores de árvores. Cada uma é única e especial e pertencente a mesma floresta do mundo todo. Falemos de uma muito especial. É um pé de poesia cheio de ritmos, sons e imagens. As letras penduradas nos galhos vão se transformando em palavras e mais palavras. E geram frutos de sonhos e imagens. A alegria é desmedida. A poesia se espalha pelo chão e cobre todo o

espaço lúdico. Pula-se amarelinha. Chega-se ao Céu. Os foguetes e os raios passaram e passarão. Ficam os passarinhos. Nas paredes o registro de gravuras únicas. A cachoeira nasce mágica e alimenta um rio de peixes coloridos sem nenhuma mulher para os matar (e nem homem). A árvore cresce na beira do rio. Ambos, rio e árvores, são dádivas presentes da mãe generosa chamada criatividade para a arte.

Nasceu aí o “Pé de Poesia”, cultivado por mãos generosas e mensageiras de um tempo feliz de leitura e vida imaginada pelo gênio Manoel de Barros, aquele escritor poeta prosador sonhador dos encantos da terra única, singular do coração do Brasil do universo inteiro. Com ele, outros magos das palavras levam crianças de todas as idades (até as de cabelos brancos) a aninharem-se junto a esse frondoso pé grande

e delicado de folhas douradas e galhos azuis que espalha seus ramos por toda a Galeria Heitor dos Prazeres transformando-a num bosque para se ler e reler.

Oswaldo Eurico Rodrigues

São Gonçalo, 13 de novembro de 2017

Texto para abertura da exposição "Pé de Poesia", na Galeria Heitor dos Prazeres, no Colégio Estadual Ismael Branco, em São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 15/11/2017
Reeditado em 24/05/2021
Código do texto: T6172677
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