Sofreguidão de recordações

Meus olhos estão taciturnos. Esta noite, por incrível que pareça, olhando as fotos e recordando as lembranças que outrora eu vivera, recorri à parte mais abissal do meu coração. Só hoje vejo o quanto era feliz e não sabia. O seu amor me completava de forma tão etérea e indizível que até um simples grão no meio do nada, para mim, era tudo. A verdade é que hoje estou só de ti. Mas, não aceito. Tu foste para mim o melhor portento de minha vida. Não aceito que a morte, como único mal irremediável, tenha te levado de maneira tão inesperada. Ela, com toda a sua impetuosidade e ignorância te levou de mim sem ao menos se quer pedir licença. Por vezes, tenho feito de meus sentimentos um verdadeiro baluarte. Mas, não. Não agora. Quero sentir e chorar todo o choro não chorado, todo sentimento guardado e não expressado. Quero ficar absorto nos meus próprios pensamentos e mergulhar em minhas recordações que me trazem você a todo momento. Poderia, é claro, ter-te amado mais, sentido mais, ouvido mais. Mas sei que fiz o bastante ou pelos menos tentei o bastante para fazer-me em ti e fazer-te em mim. É uma pena que a vida se apresenta de forma tão vil para nós seres humanos e que só depois da morte é que reconheçemos o verdadeiro valor que a ela deveria ser concebida. Não quero deixar que esses  sentimentos vivos em mim e eternizado em ti, feneçam. Por isso, sigo diuturnamente na tarefa de recordar-te a toda hora para alimentar esse amor voraz que se alimenta com sofreguidão de suas recordações.

Luis Benevides
Enviado por Luis Benevides em 08/12/2017
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