Rascunhos

Rascunhar-se...

Fiquei uma boa hora embatucada, pensando como seria isso.

Se fosse possível, quantos rascunhos de tudo eu faria?

Faria um rascunho dos amores que teria, das dores que sentiria, das escolhas que escolheria?

Faria um rascunho dos rascunhos que escreveria?

Se eu tivesse a chance de passar a vida a limpo... será que a limparia?

Um poeta disse que “a vida são deveres que trazemos para casa”, outra, que “a vida só é possível reinventada”, nas duas hipóteses, a alegria é que teríamos sempre a segunda chance.

A vida dos poetas é um labirinto de sonhos que se sucedem, camuflados na bruma de suas mentes inquietas e suas almas repletas.

Vivemos e assim é que é, sem a chance de apagar o que foi dito, mesmo porque, antes mesmo de dizer, o fazem nossos olhos, nossos cheiros, nossa energia. É no pensamento que o mundo se constrói.

Rascunhar-se...

Se possível, qual seria nossa melhor versão?

Pensando bem, eles sim, acontecem, nossos rascunhos...

Mais um poeta me socorre na explicação: “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali”.

Mas com as palavras, ao romper de cada manhã é que temos as chances de passar a limpo tudo o que escrevemos no dia anterior, embora muitas e fortes, embora deveres que preguiçosamente cumprimos, com essas palavras podemos a tudo reinventar.

Importante é ter uma mão que possamos segurar, um sorriso que nos possa guiar, um olhar e uma prece que nos possa encorajar.

Nem sempre a hora é a melhor (parece que quase nunca), nem o momento o mais preciso (quase nenhum), porque o coração é um mundo de teimosias, de emaranhados, de dúvidas, cada pulsar é um desejo aflito de ser feliz.

Não, não quero nenhum rascunho de mim.

Quero a vida em sua imediatez! Eu a quero apaixonada, arrabatada, repleta de significados múltiplos, mas consciente de que cada gesto meu é o seu, cada efeito gerado é nosso, cada sentido é mútuo...quero a vida em sua capacidade própria de nos fazer melhores a cada momento, mas quero, sobretudo, a mão que guia nossos passos com a serenidade de uma caneta multicolorida que deixa o texto da nossa história mais belo e verdadeiro, o amor.

Brandim
Enviado por Brandim em 10/12/2017
Reeditado em 10/12/2017
Código do texto: T6195080
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