Tradições da Aldeia Transmontana...
--- Eiiiiiiiii!!!...Ora aatão “munto boas
                                  neites!!!...” !!! pobo de crabelas!!!...
 
- Atenção!,... atenção!,... muita atenção!
   ... c’agora eu vou a falar,...
        Ao pobo de Crabelas!
   Nós “estêmos” aqui reunidos p’ránunciar, 
     (a todos!, ... a eles, e a elas!!!!...)
    
Qu’esta neite nós vamos a ajuntar,
         a “mula” preta do curral do fundo do pobo!
         --- E ó Jerico do Tonho “burmelho”,
             - p'ra fazerem tudo de nobo!!!
 
Este era geralmente o típico grito de “boas neites”!... alardeado na entrada da noite, depois da Ceia, pelo primeiro que chegava à “Curriça” do cimo do povo, situada lá no alto do Bairro do Mourel, à esquerda do lugar chamado de Castelinho, no caminho do Musiado e,... depois de se acender a fogueira, às vezes só para se aquecerem, e cavaquear sobre temas genéricos,  outras vezes para ali se assar alguma chouriça para acompanhar um copo de bom vinho, e dali começavam a chamar a “malta”, para mais uma rodada de brincadeiras sem maldade do serão da Aldeia!,... Isto é, embora por vezes, de certo modo, algumas delas se tornavam embaraçosas para os ouvintes, que as escutavam dentro das casas, não raramente já na cama, antes de pegar no sono...
 
Namoricos que surgissem no ar, durante o dia ou na semana, pois a “Serra das Velhas” não tinha programação definida, a seu tempo eram ali comentados.
A notícia dependia da vontade de meia dúzia de entusiastas enfrentarem o frio da noite, que subia ladeira acima em direção ao Alto da Serra onde a neve começava a fazer cama, logo no princípio do Inverno.
Quando alguém de outra Aldeia, se fosse homem, começava a namorar Rapariga da Aldeia de Caravelas, tinha que passar pela aprovação da “malta do pobo” e,... desde que a dita cuja confirmasse o namoro, ele tinha que “Pagar o Vinho”!!!...
Tal cerimônia era sacramentada na Taberna local, fosse a da Ti Cândida, ou a do Ti Orlando, ou a do Marcolino,... não importava de onde ele era!,...vinha de fora e queria namorar rapariga da Aldeia, tinha de pagar o “binho”!
A tradição rezava que  o ”intruso” tinha que pagar o vinho!,... e a cerimônia era divinalmente sacramentada já de tempos bem antigos!
---  E isso se resumia a que o estranho pretendente a namorar alguma rapariga da Aldeia, pagasse um garrafão de vinho para todos os que ali estivéssem presentes, ao se saber de tal pretensão oficialmente, digamos, é claro que a noticia corria pelo povo e tinha bebedeira na certa!...
- senão o namoro não era “abençoado”!?...
Depois de “pagar o vinho”, se comemorava então entre os presentes, congratulavam-se com o pretenso consorte, e a malta voltava de novo à conversa que, geralmente, se relacionava com a lida de cada um no campo ou em casa, conforme a época do ano. 
Conversas de “soalheira” e intrigas de vizinhos, sempre os houve, e há-de haver!,... pelo menos enquanto a humanidade existir.
 
O diferencial da “Curriça de Caravelas” era a sonoridade das brincadeiras, das picardias, algumas com certa malícia,  que se espalhavam por sobre os telhados das casas da Aldeia que, naquela época, chegou a comportar quase 600 Almas espalhadas pelas casas geograficamente agregadas em volta do Terreiro Central, aonde se situavam; a Fonte Romana, que recebe água da Fonte da Mãe D’àgua, lá do Alto do Mourel, o Coreto, o Tanque de Lavar Roupa, o Tronco para ferrar os animais... e toda a convergência das várias ruas vindas dos diversos caminhos de acesso ao termo dos campos da Aldeia. 
(in: "CURRIÇAS DE CARAVELAS" De: Silvino Potêncio - Emigrante Transmontano em Natal/Brasil)  
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 16/01/2018
Código do texto: T6228014
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