Ode à lua

novembro 12, 2017

Coberto de estrelas está o céu nesta noite de novembro, o teto daqueles que varam a noite de sonho em sonho, despertos onde mora o coração, em busca de uma rima primorosa ou apenas de uma simples resposta.
Dia desses eu desembacei o vidro e fiz questão de demorar meu olhar que mirava a lua lá no alto, solene, passeando aqui por perto. Saudei minha velha amiga e relembrei com carinho quão importante ela foi e sempre será para a minha poesia. Nosso diálogo transcorreu por telepatia e o fluxo de nossas ideias renderia um desses monólogos malucos a exemplo daqueles que eu fazia dela a testemunha do meu bem querer dedicado com fidelidade a cada pessoa que estremeceu meu coração.
Minhas lágrimas choraram em versos desfigurados. Fechei as cortinas, os olhos, o coração, para o amor não me encontrar nem me tirar à paz. E a pobre lua que desde os primórdios ama o sol com uma invejável resignação, riu do meu desatino porque nunca permitiu que arrefecesse a certeza de que mais cedo ou mais tarde meu olhar resplandeceria tanto quanto ela.
E seria então o nosso segredo.
A lua sabe, um coração quebrado dói um bocado. Como ninguém, ela entende a formatação dos meus versos mesmo sem ler no mesmo idioma que eu porque um muito mais universal no abrange e nos conecta, como poderia eu não acreditar nele se é a força propulsora que sustenta minha alma?
A lua já me despertou no meio da madrugada para que eu não me esquecesse de dar-lhe um beijo de boa noite. E em tantas outras noites as nuvens a esconderam de mim.
A luz da lua se estende como um véu pelas colinas e encontra-se à disposição para escutar as lamúrias de poetas aflitos não apenas por inspiração, mas para fazerem alguma arte dentro dessa galáxia escura e distinta que se estendeu de uma parte a outra da alma depois que o coração se quebrou.
A terra seca pela ausência da chuva se curva em gratidão. Lá estão às nuvens de prontidão acalentando àquele que aprendeu a ser paciente diante de alternativas bem menos atrativas. E quando os primeiros pingos caem se misturam ao pranto de emoção de um terreno esquecido no meio do nada e que ainda sonha em florescer. Travesseiros dispostos em duas tonalidades e suas variantes: brancos ou cinzentos, compostos pelas lágrimas engolidas, pela infância perdida, pelos sonhos que o medo engoliu, pelos amores que se não morreram de desastre nem sequer se consumaram.
Oxalá o tempo me permitisse manter mais diálogos com a lua e me deixar inebriar pelo simples deleite de desligar a atenção dos equipamentos eletrônicos para me conectar com a inspiração, nesse silêncio tão reconfortante escutar o que diz o meu coração e traduzir esses sentimentos sem receios para que eles não se percam no autoritarismo daqueles que julgam a minha poesia como não a sendo como se tivessem o direito de desmerecer meu olhar sobre as coisas.
O que realmente me importa é que, formatando as rimas em cacofonias tolas ou não, a lua, onde quer que esteja, faz dos meus segredos seus também. Amiga assim nesse mundo eu nunca tive ninguém, então será ela a primeira a saber que aquele coração sem nome desenhado numa folha do meu caderno tem nome, está escrito com caneta transparente, só quem olha com o coração pode ver.
E ela pode perceber que apesar dos receios em dizer sim ou não, quem fala mais alto são as batidas do meu coração. Já não sou mais a mesma de um ano atrás. Meus olhos podem até esconder o viço, sei lá, talvez eu não queira fazer promessas nem pedir nenhuma estrela emprestada, só me deixar embalar por essa vibração tão doce e tão diferente que me fez adormecer mais tarde e prestar mais atenção na minha velha amiga, como também não quero que meu sorriso desperte a maldade em olhos que só enxergam o que é perverso, sujo e não se parece com amor.
Mas eu sei e a lua sabe também, esse sentimento que eu relutei em explicar é mais forte e por ora quero fazer dele um segredo, algo que reacenda a amizade com a poesia e aquele jeito delicado de ilustrar as sinestesias, registrar no tempo aquilo que é eterno por uma fração de segundos, eterno porque não tem começo nem final.
E a lua bem sabe: o amor verdadeiro não tem começo nem final, apenas o instante em que com o toque suave desperta a alma para que ela prossiga a caminhada rumo à evolução, de mãos dadas com o bem. Sendo eu terrena, preciso me recolher, repousar e reajustar esses versos em harmonia para fazer de conta que respiro poesia e não me importo se durar uma fração de segundo ou quarenta anos.
A lua ama o sol por todo o infinito. Oxalá eu soubesse amar assim!
Boa noite, lua!
Não está expresso o quanto eu sentia saudade de te ver, de te sentir. No meio dessa correria insana eu não tenho prestado atenção em quase nada, respeitando prazos porque me regro pela contagem das horas, dos dias e das estações, mesmo que o tempo mais importante para mim seja aquele que tanto fala ao meu coração, o meu tempo de chorar, de rir, de descansar, de deixar ir e de deixar entrar.
Fecho devagarinho a cortina, chegou a hora de fechar os olhos e mergulhar em minhas preces ao Pai Amado, repetindo até o sono me render: obrigada, obrigada, obrigada...
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 22/01/2018
Reeditado em 01/05/2018
Código do texto: T6232679
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