XXI

Quando as intenções se apresentavam escondidas e cada palavra com seu duplo sentindo apimentava uma conversa, você se fazia inteiramente meu, ao mesmo tempo que nada teu se encaixava em mim. Minha mente nos unia de tal forma, que diante de todo "boa noite" um sorriso brotava do meu rosto, empurrando-o e demarcando todas as linhas de expressão desta face que você não houvera sequer tocado. Errei. Certo dia errei em falar sobre o quanto minha imaginação se fazia expandida quando o assunto era nós. Errei em demonstrar, e no mesmo instante, meio que impulsivamente, você retribuiu (me senti feliz, nossa, como me senti feliz). Após saber o que eu queria, tuas palavras mudaram, tuas atitudes também, e como quem ganha uma corrida, teu fôlego já não era o mesmo para nós. Enxergava palavras cansadas, de pessoas cansadas, em momentos cansados. Sim, você desistiu de mim, talvez por puro desprazer de saber que dentro da caixa dos nossos duplos sentidos, você já soubesse o prêmio surpresa - o meu amor. Abro a caixa, fecho, mudo a aparência, recorto as exigências, peço apenas metade do que antes eu necessitaria. Deixo um espaço maior para as suas paranoias, me aperto, e espremo meu corpo agora magro de preocupação. Me desloco com o ser dolorido de tanto se encolher no pequeno espaço que sobrara. Tento pensar no que fazer pra te ter, e como quem tira a cabeça de dentro da caixa, pra respirar e repôr o oxigênio agora rarefeito, avisto um artefato pendurado.

Desapego, seu nome.

Pessoa forte, seu sobrenome.

Frieza, sua linhagem.

E de brinde, uma passagem com tudo pago para o século XXI.

R.K