Piquelucho 4

Agora posso voar através da imaginação, visitando mundos áridos ou verdejantes. Sem pudor. Afinal, os físicos quânticos não atestam que o observador pode interagir com o mundo subatômico? Ali, não há espaço , nem tempo, somente o agora.

Seria por aí o percurso do caminho para realizar-se no vazio luminoso que os antepassados da China testificaram?

A espera para ser atendida na clínica de fisioterapia, petrifiquei meus olhos, cai na real do mundo determinista dos elementos químicos e suas imperfeições, pecas de lego que constroem a realidade a partir do átomo, pecinha menor, que faz as coisas serem como são, eu e tudo quinte coisa.

Aguardando ser atendida na entrada do centro de fisioterapia, vejo chegar uma criança na garupa de uma motocicleta; o menino e aquela que depois soube ser sua mãe.

A mulher estacionou, literalmente pegou o filho nos braços, o menino aparentava ter metro e trinta. Ofegante, o conduziu até a calçada da clínica.

Ele, de pé, e inseguro, deu alguns passos, arrastava as perninhas, tentando esconder as mãos semi cerradas para trás, com uma expressão suspeita de vergonha.

Debaixo de uma árvore, aquela bela criança aguardava a mãe, não para levá lo ao futebol, basquete, ou qualquer outro esporte, mas para a sessão de fisioterapia.

Depois de dar diminutos passos, aproximou até a cadeira de rodas que a mãe havia buscado no interior do centro de fisioterapia, sendo conduzido para o local onde faria a sessão com fisioterapeuta.

A reação emocional minha, não foi a compassiva, mas aquela da lista dos níveis inferiores, instintivos da alma, a desolação.

Pior que isto tem sido assistir aos noticiários dioturnamente, as imagens e notícias de guerra no mundo...não sei o que é pior.

Eu, tudo bem! adulta, testada um pouco pela vida, brinquei de betes, queimada, bugalho, andei de bicicleta, vôlei, fui à escola, aos aniversários, às festas e aos templos com meus próprios pés, pulei, subi em árvore, para depois adoecer e conhecer os bastidores cruéis da cadeira de rodas, do andador, cadeira de banho, etc.

Mas aquele menino? não! Ainda é um menino!

Meus olhos lacrimejaram, tive um choro mudo.

Mesmo assim, vi Deus nos olhos da mãe dele, na valentia carregou seu filho, cumprindo seu dever, como uma guerreira anônima.

E a criança? Assim como eu...sobreviventes, transcendendo dia a dia as sequelas impostas pela falha do movimentar do corpo.

Chegará o dia da compatibilidade harmônica entre o mundo subatômico e os elementos químicos fixos da realidade, talvez fundindo a ciência e a espiritualidade, a bem da humanidade? curando doenças, mazelas da alma, o campo magnético da terra e do homem? Anunciando as boas novas para o caminho da imortalidade?

Que assim seja.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 13/03/2018
Código do texto: T6278420
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