NÃO FOI UM SONHO


 
Eu vi uma flor nascer no meio de uma caveira no cemitério,
E um sorriso amistoso brotar nos lábios côncavos do Gilmar Mendes.
Eu vi uma Casa Legislativa cheio de homens e mulheres virtuosas
Trabalhando febrilmente em prol do bem estar público.
Eu vi imbuias, mognos e jequitibás, no lugar dos edifícios
Que obstruem a minha visão da montanha.
Vi um soldado beijando a mão de uma prostituta 
E um skinhead ajudando um cego a atravessar a rua.
Eu vi pessoas portando bandeiras de times de futebol
Lavando o piso de uma praça pública,
Como fazem as baianas com as escadarias do Senhor do Bonfim.
Eu vi padres de batina negra e maçons com aventais azuis
Cantando o Hino Nacional em frente á uma sinagoga,
E um rabino de longas barbas bifurcadas rezando o Padre Nosso,
Enquanto um mulá xiita, de barba e turbante negros
Distribuía ao povo a hóstia consagrada.
Eu vi uma multidão portando bandeiras vermelhas
Lavando as portas de vidro de um banco,
Enquanto cantavam uma letra de Caetano Velloso
Feita para o Hino à Alegria de Ludwig Van Beethoven.
Eu vi tudo isso e não era um sonho.
Era apenas um universo paralelo que eu acabava de inventar.