Sem receio a menina corria, seus passos eram propositalmente direcionados sobre o musgo verde e macio que encobria as bordas da ribanceira, arriscava-se a cair, buscava o voo, desafiando a gravidade. Era lépida e a alegria infantil tatuava seu rosto. Seus pais a seguravam dizendo - voando assim vai quebrar as asinhas e ela, feliz sorria e no outro dia, voava mais rápido ainda, pousando numa curva do caminho à espera do progenitor que iria chegar para o almoço. Essa era a sua rotina diária e depois voltava a seus ruflares tresloucados sem que ninguém percebesse. O que buscava com tanta pressa? Porque muitas vezes se escondia camuflando-se entre a paisagem, esperando borboletas incautas que por ali passeavam também? Caminhava sobre pedriscos nas trilhas e os imaginava pérolas perdidas de alguma ostra cansada do fundo do mar. Seus olhos arregalados a tudo observavam, seus ouvidos captavam a fala do silêncio no vale onde árvores centenárias eram mudas testemunhas do tempo. Com elas interagia, colhia suas flores intensamente perfumadas espargindo-as pelo ar. Tinha uma só dela, pequena e já florindo nas primaveras, ficava a seu tronco abraçada dizendo meninices e a tal ouvia, aspergindo-lhe perfumes sutis. Era apenas uma criança, mas já sabia curar alguma ferida interior se a tivesse. Buscava sempre refúgio em meio à natureza, junto aos pássaros e seus maviosos cantos, os quais tentava imitar. Ali o tempo a marcou, aprendeu a emendar letras e solfejar desafinadas notas musicais, rabiscar poemas e tocar melodias em seu coração. O Universo sempre foi seu ninho, a natureza sua segunda mãe e todo o resto da vida... poesia.


Pedaço de auto biografia











Fotos da autora
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 09/05/2018
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