MINHAS AMIGAS CAVEIRAS

No tempo da minha infância, ao contrário de hoje, quem estudava em escolas do governo eram os filhos dos ricos e apadrinhados políticos. Pobres como eu, estudavam forçadamente em escolas particulares. Da mesma forma, eram as escolas públicas que detinham o status de bons ensinos e as pagas o de mau. Dito isso, acrescento que estudava o primário no Colégio Americano, na Estrada de S. Benedito, município de Olinda, fronteira com o bairro de Beberibe no Recife, onde eu residia.

Eu nunca fui um mau caráter como aluno, mas gostava muito de conversar e bulir nos livros e cadernos dos colegas. Por conta disso, vez por outra ficava de castigo. De tanto ser castigado por verdadeiras bobagens, acabei por me tornar um aluno discriminado pela professora e pelo diretor do colégio. Certa vez, o castigo na sala foi substituído por um castigo no gabinete do diretor. Ele me colocou sentado numa cadeira ao seu lado recomendou-me que ficasse quietinho e continuou seu trabalho de diretor. Comecei a me mexer, e a futucar o que estava ao meu alcance. De vez enquanto leva um grito do careca mandando que eu me comportasse. Como eu não correspondia sua expectativa, na terceira vez que a professora me levou para ficar de castigo ao seu lado, ele me levou para o porão do colégio, um local amplo, Quase que completamente escuro, cheio de mapas, globos e dois esqueletos humanos que serviam para aulas praticas de ciência.

Quando fui deixado ali sozinho quase entrei em pânico. Naquele tempo, fantasmas era uma coisa que realmente existiam na cabeça da gente.

Estatelado na cadeira, sem voz e morrendo de medo, fiquei quase uma hora sem pestanejar, de olho nas caveiras ali em pé na minha frente. Aos pouco, fui me acalmando, levado o pensamento para longe, até que descobrir que o medo havia dado lugar a um sentimento de tranqüilidade. Ensaiei os primeiros movimentos ainda sentado sobre a cadeira, fui levantando devagarzinho, mexi nos livros, nos mapas, nos globos e finalmente comecei a conversar com as duas caveiras: perguntei de onde elas haviam vindo, para onde pretendiam ir, apertei as mãos de ambas, fizemos amizade e conversa vai conversa vem, eu já estava dando várias gaitadas e achando o castigo um tremendo barato, quando de repente, a porta da escada do porão se abriu e lá no alto, surgiu a figura impoluta do careca diretor com ar de profundo espanto e decepção ao me ver de bate papo e as gargalhadas com suas caveiras. A finalidade do castigo no quarto junto com os esqueletos, era me aterroriza. Queriam por meio daquela perversidade psicológica me anular, rasgaram a boca. Era meio dia, as aulas haviam sido encerradas e ele me mandou deixar o local e ir embora para casa.

Nunca mais me levaram para o quarto das caveiras, não tinha mais sentido, as caveiras eram minhas amigas, mas eu bem que tentei dar motivos para tal!