O fardo da indecisão

Por medo há quem deixe uma promoção no emprego escapar, um amor partir.

Por medo há quem se negue a dizer palavras embora simples, impactantes, mas importantes porque o rebuscado é adequado ao parnasianismo para manter a estética do poema que se apresentava elegantemente e nem sempre deslizava os dedos nas notas certas, preocupados mais em tocar a música em vez de senti-la com intimidade.

Por medo há quem nunca refaça os hábitos e acumule mágoas, objetos, pessoas. Tesouros despertam cobiça, é vero, mas nesse monte de poeira, apenas a sua asma agradece.

Por medo há quem passe uma vida toda cumprindo a torturante rotina sem nunca passar pela cabeça que tudo pode acabar.

Por medo há quem magoe, quem abandone a prova antes da metade, quem faça um escarcéu por conta de uma unha quebrada.

Por medo os julgamentos são duplamente cruéis.

Há quem nunca persiga um sonho por causa da rejeição, contente pela ideia de sonhar, ir adiante e não se conformar com o que merecia ter.

Há quem prefira o tédio para que as ilusões não se percam, mas os sonhos são as nossas asas, não é justo que se abra mão do que se quer porque o frio na barriga assusta. Sim, no começo, a todo mundo, você não é exceção.

Por medo eu me tranquei em mim uma centena de vezes e o eco do remorso trancou a respiração.

Quando menina eu ouvi que meus sonhos nunca se realizariam, que não passavam de utopias e condicionada a alimentar essas afirmações, coloquei-me num patamar gritante de inferioridade, contente com migalhas, fui chão por tanto tempo que hoje ser um sapato e confirmar que a felicidade abraça quem a chama é por si só a minha lenda.

Por medo não me abri, não escrevi, parei de cantar, de ser o melhor que poderia ser... Eu mesma!

E você acha que a vida espera os indecisos?

Ninguém tem todo o tempo a seu favor, nem quando se é jovem.

Há quem envelheça detido pelo medo e antes que me acuse de ser repetitiva, você tem medo daquilo que mais quer, até das raízes do que não sabe, no entanto acalme-se. Também sinto medo, porém não quero demonstrar, não quero mais uma vez adiar o próximo ato.

Decida e não olhe para trás.

Abril/2014
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 16/07/2018
Código do texto: T6391548
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