Boa Sorte. Boa vida.

I

Já faz um tempo desde a ultima vez que nos falamos; mal e às pressas. E disso não nos sobra nada. Eu esqueci até o que nos dissemos, o que eu te disse e o que deixamos de dizer. No entanto, ainda tenho comigo tudo o que eu queria que você soubesse. e acredite se eu te disser que isso aperta meu coração com bastante crueldade.

É como um tribunal: eu sou o acusado e todos os ‘te quero’ e ‘te amo’ se voltaram contra a mim. Pedem minha prisão. Exigem que eu não volte a ver a luz do sol. Estão tirando com unhas e dentes, pena por pena, o que uma vez foram duas asas que serviam para alcançar nossos sonhos e me fazer tentar ser seu herói em uma ou outra tarde de chuva.

Já faz um tempo desde a ultima vez que não dissemos nada do que costumávamos dizer. A primeira vez que nos dissemos ‘tchau’ sem nenhum ato de amor. A primeira vez que nos despedimos sem dizer nada nem medianamente carinhoso. A primeira vez que fomos embora e sabíamos que seria quase impossível voltar.

Não pretendo te escrever isso para soar como vítima. Será que você se lembra? Dessa última vez – que não me lembro do que falamos –, se lembra de como a nós parecia que não importava nada do que estava acontecendo? Estávamos mais ocupados nos nossos próprios escapes. Em sair do que nos fazia mal na vida real.

Eu me lembro. nós nos demos as costas. Você não se despediu nem eu tive tempo de te desejar boa sorte. boa vida.

O que mais dói é saber que nenhum de nós colocou como objetivo voltar a passar pelo caminho do outro.

II

Já se passou quase meio ano. Tenho isso marcado na pele em forma de cicatrizes de guerra, tal como um prisioneiro faz para não perder a noção do tempo que leva encerrado em quatro tristes paredes. Tenho isso nas feridas que voltam a se abrir a cada dia 30.

Elas se abrem por um momento e então você vem e desperta meus anseios. Se abrem, sangram um pouco e me deixam de volta o sabor amargo da tua partida. Apenas para voltar a se fechar; E isso me soa como uma coisa perpétua. Um mal karma. Uma dor de cabeça contínua.

Eu não deveria estar escrevendo isso. Para dizer a verdade, tenho negado durante dias uma das únicas coisas que eu fiz de forma apaixonada: te escrever. Tenho negado a caneta que sempre me foi fiel; porque não importava quantas cidades eu planejava ir contigo, a caneta sempre me aguardava em casa com toda sua tinta.

Levo meses negando o que sinto porque se eu chegar a ser profundamente sincero, irei dizer que sigo te amando e isso é pior do que aceitar que vivo em uma cela de apenas doze metros quadrados com quatro tristes paredes.

P Neto
Enviado por P Neto em 22/07/2018
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