Ideais
Há os que guardaram seus ideais em baús
Em caixas de papelão
Com antigas fotografias
Há quem os conserve
Empedernidos
Colados às paredes dos congeladores
Revestidos de pelúcia glacial
Que impede a leitura das etiquetas
Ou esconde os vestígios do conteúdo
Há os que dos ideais nem mais lembram
Ainda que recordassem não os perceberiam
– Pois nem sabem onde largaram os óculos –
Mesmo que usassem lentes
Não os reconheceriam soluçando
Entre as pegadas à sua volta
Nobres aspirações hoje esquecidas
Cintilam fracamente em estertores
Envoltas em lençóis nunca trocados
Passado tanto tempo
Há quem peça perdão
Pelos deslizes de sua juventude
E sem enganos a si mesmo
Intimamente se arrependa
Do ideal nunca frutificado
Em dia vindouro
Talvez a semente
Retirada do baú
Seja herança aproveitada