REFORMA AGRARIA DISFARÇADA

Seu moço, eu não quero criticar nem mesmo fazer troça, embora na realidade poça, tudo isto por em duvida, embora reconheça que a tecnologia que chegou na roça um dia, parecendo ser uma coisa de grande valia, mas continuo achando que pro caboclo não foi uma causa ganha. Não acredito nem um pouquinho, ter transformado da água para o vinho, a vida daquela gente sofrida. Se hoje os agricultores, fazendeiros e seus doutores, pra cuidar de suas terras usam poucos trabalhadores para darem conta da lida, embora no trabalho haja mais conforto, se não ficam quase morto, com cansaço quando o dia finda, eu continuo achando ainda, que ai tem coisa estranha.

Se hoje vejo as maquinas de grande capacidade, que trabalham em alta velocidade para manter grande a produção; se tudo no campo esta mecanizado, se acabou o trabalho pesado e a produção tem aumentado, em tamanha proporção, gerando divisas pra nossa nação. Dia e noite o motor berra, é trator preparando a terra, maquinas modernas e de grande porte, que sob o comando do homem: ara, gradeia e nivela; em seguida vem outras, semeando e adubando, pra planta sair sadia e forte, tudo isso é coisa bonita de se ver, dizem que até até parecer coisas de novela, mas vou ser sincero na minha opinião, embora até me cause grande emoção, ver os os estágios da produção e os maquinários percorrendo os campos, bem diferente do que foi outrora. Vendo o produtor sempre buscando informação e graças a informática que chegou no sertão, as orientações chegam sem demora. Ah seu moço, se muito me alegro com a tecnologia, que muito o sertão tem ajudado mas o que me traz certa nostalgia é lembrança do passado, daquilo que a roça foi um dia, sinto um aperto no peito, e o que me deixa com coração pesado é saber bem do jeito, como tudo foi transformado.

Seu moço, eu era ainda uma criança. mas trago vivo na lembrança, chegando com forte influencia, as promessas de vida fácil na cidade, causando grande ansiedade e quebrando qualquer resistência. Foi assim que diaristas, meeiros, arrendatários e até mesmo pequenos proprietários, sem pensar nas consequências venderam suas terras e deixaram as suas querencias em busca de sucesso e riqueza que a cidade prometia, em pouco tempo o sertão se esvaziou, foi a maior reforma agraria, que o governo realizou, aquele bairro populoso, cheio de gente forte e sadia, ficou num passado saudoso, nem sinais do que foi um dia, até a escolinha que ensinava a criançada, sem escrúpulos foi derrubada, pois não tem mais serventia, da roça já não resta quase nada, a não ser a saudade que judia.

Seu moço, no sítio hoje quase ninguém mais mora, é um deserto verde e perdido e pelas estrada de terra demora, pra cruzar com um conhecido, o transporte feito em carro de boi com o triste cantarolar dos cocais, é coisa que a tempo se foi, agora e o caminhão que faz. Não tem charrete, nem carroça ou cavalo, parece tudo ter se perdido e aquele sertão do qual falo, parece que foi mesmo esquecido. Não tem o cantar do galo nas madrugadas, nem o grito do urutau nos matagais e o mugir do gado nas invernadas, são coisas que não ouvem mais. Embora sinta saudades, sei que a vida do campo melhorou passaram as adversidades que do caboclo tanto judiou mas vejo que na verdade, pouca coisa no vida mudou, pois toda aquela dificuldade, cá para cidade também migrou.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 18/08/2018
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