AUSÊNCIA DE GENTE - TELÊMACO MARRACE
Não temeis a modernidade.
E o instante?
Também não poderás temer esse lapso solto no infinito, esse passar que não se detém, as marcas profundas no rosto, os dias envoltos em nebulosas dúvidas e os fortes e brilhantes, aos quais desfrutou– e fostes de um caráter exemplar, para não se sucumbir às maledicências humanas.
Hodiernamente vivemos um tempo virtual que transformou o tempo "físico".
Não há lapso temporal, sucumbiram-se as pausas – As conexões não cessam.
(Mas há silêncios gritantes.)
Perdemos os papos, os atos e abraços.
É um tempo incessante,
e vagamos acabrunhados em nós mesmos.
Já não ouvimos o rouxinol, o coaxar dos sapos, o choro do vento, onde até lá havia melodia e muito menos o barulho da chuva a cavucar insistentemente as telhas, já não sentimos o cheiro da terra molhada, do café passado, bolo da vó, e também o cheiro da amada.
Estamos à deriva em um oceano de ausências – e de ausência de Gente de verdade!