POESIA & UTOPIA

Haverá um dia em que voltaremos a nos buscar,assim, tal qual pelas manhãs de inverno, quando, ao abrir das janelas buscamos pela inspiração na atmosfera acolhedora; corpos e almas unos, em brisa limpa e suave, a oxigenar as células adormecidas dos nossos mais íntimos devaneios.

Haverá um dia em que, em ato pré-histórico, voltaremos a nos tocar, às texturas das nossas faces, a resgatar dos cenários todas as nossas impressões digitais esvaecidas nas páginas dos “books in fade faces", vanguarda do epitáfio vida, em meio ao frio dos andróides míopes e mudos que já não se reconhecem mais.

Perderam o sinal...

Haverá um dia em que voltaremos a enxergar os jardins, não os da Babilônia, e com acuidade dos sentidos enxergaremos até mesmo o vento invisível que consigo nos leva junto ao tudo para os campos duma força que pulsa desconhecida:

O verdadeiro sinal que nunca se perde.

Haverá um dia de se resgatar a energia dum abraço junto à maciez das delicadas texturas de toda biodiversidade judiada, por ora ida, desviada das suas rotas de tezes necessárias e outrora macias.

Um dia haverá em que , qual beija-flores humanos e em ato respeitoso de retro-alimentação da vida, apenas roçaremos suavemente toda a natureza, agradecidos à dádiva do seu paisagismo resiliente que, a despeito de nós, sempre nos nutre e presenteia com denso perfume, para que exalemos pela eternidade os nossos sentidos ora perdidos...

Haverá um dia, ainda frio, em que de súbito, toda a tecnologia derreterá no calor humano recém descoberto em chama alta, bem ali, como na euforia inquietante dum arqueólogo que escava e encontra resquícios de humanidade soterrados bem no fundo da Terra.

Então, nesse dia, poesia & utopia soarão versos...

Juntas seguirão a dançar de mãos dadas, a chapinhar a vida, em ciranda pelos límpidos riachos desérticos, que da morte atávica ressuscitados estarão em água original, viva e cristalina.

Dia em que toda natureza agradecerá pela caridade do milagre humano.

Assim,como se crianças fossem, poesia & utopia catarão estrelas decadentes religadas num chão escuro que prontamente se fará luz premente, a um novo paraíso: o da consciência sobre a Terra.

Nesse dia o amor, objeto de busca e descoberta arqueológicas perene e incondicional, ressoará suas trombetas de religação entre os Homens e toda a Humanidade ressuscitaremos de nós, atolados que estamos pela distância do todo essencial de nós a nós mesmos...

Haverá esse dia em que, em ato de misericórdia existencial, ainda que na utopia da poesia, todos nós nos reencontraremos a caminho dum único sentido.