Pedido de Natal
Querido Papai Noel
Aí vai o meu pedido
Para o dia de Natal
Me traga
Um cavalo, um grandinho,
Se for pequeno, não faz mal
O importante é que sirva
Pra cavalgar
Sem pose de super-herói
Seja eu Dom Quixote
Montado em meu Rocinante
Para lutar contra os moinhos de vento
Porque lutar contra os ímprobos
É como estar de olhos vendados
Não são francos
Não lutam frente a frente
Armam ciladas
Atiram seus venenos
De seus esconderijos
Covardemente
Lutar contra patifes
É expor-se às traições
Porque nunca serão
Gentis-homens
 
Lutar contra os cínicos
Com suas verbosidades dolosas
Em momices nas tribunas
Ou esparramados em seus tronos
É cansativo
Um morre, logo vêm dois
Disputar o assento
É desgastante admitir
Que lutar contra os gananciosos
Devastadores de florestas
É fogo
As mangueiras carbonizam
E a garganta seca
Lutar contra os corruptos
É desvantajoso
Trazem armas escondidas
São useiros e vezeiros
Em aplicar golpes baixos
Em esgueirar-se através
Dos meandros das fraudes
E apunhalam pelas costas
Nos desfiladeiros sombrios
E ao lutar contra os impunes,
Serei incompreendido e condenado
A ser preso em lugar deles
Em meio à inglória peleja
Mesmo assim quero lutar
Mesmo que seja eu
Uma triste figura
Escarnecida
Quem sabe montado
Num cavalo de pau
Quem sabe conseguiria
Usar de um artifício
Para vencê-los à grega
Numa Troia de enganos
Que eles dizem não existir
Tampouco Papai Noel
Mas todos sabemos
Que também se negam, mas existem
E se entocam como ratos
Nos moinhos da ignomínia,
os cínicos, os gananciosos, os corruptos,
os impunes e outros tantos
Todos são eles
Semelhantes
Aos néscios, que atiram pedras
Aos embrutecidos, que jogam pesado
Uns incipientes por natureza
Outros nunca tiveram berço
Seja eu Dom Quixote
Mesmo sabendo que
Serão meus aliados
Apenas os pobres Sanchos
Ou cavaleiros
Quixotescos iguais a mim
A brandir espadas ao vento
Montados em pangarés
Extenuados
Ou em corcéis imaginados
Feliz Natal
Assinado Netinho
P. S.
Um cavalinho de pau
Serve
Para continuar a luta
Contra os moinhos deles