Poesia de Inverno

Ah, é final de tarde. Quanta falta o frio fez para mim e para essa cidade. Nuvens escuras enlaçam todo esse imenso céu. Por conta delas mal vejo o sol se por nesse horizonte azulado. Qual seria a graça de ver todo dia o mesmo sol no mesmo horário? Pequenas aberturas deixam a luz escapar criando alguns pontos amarelados. Ainda faltam algumas quadras para eu finalmente em casa chegar. Caminho calmo e sem pressa pois meu bairro nunca teve ruas muito movimentadas. Aliás, quem seria eu para quebrar essa regra não declarada? Sinto uma brisa fria cortando meu rosto, em breve ela passa. Já me avisei que faltam só quatro ou cinco quadras. Vejo meu vizinho com a cara cansada, sentado em meio ao frio e todo encasacado. Cumprimento-o pelo portão e ele sorri com meu pequeno gesto de afeto. Hoje em dia todos andam tão ocupados com certas modernidades que chega até ser estranho alguém parar por um minuto para te cumprimentar e reviver uma velha amizade. Aquelas marcas faciais em seu rosto revelavam sua grande idade, talvez ele sinta saudades de sua infância ou de sua esposa... É difícil lidar com o tempo, nos concede ótimos momentos mas nenhum deles perpétuo. Seria egoísta de nossa parte receber todas essas lembranças e só guardar o que nos fez feliz e jogar fora o incerto. As vezes o caminho é árduo e nem sempre a saída é clara, mas é isso que faz a diferença para mudar a maneira com que você lida com a vida. Cada detalhe a mais ou a menos a deixa única e rara. Há quem prefira estar sozinho ao relento sentindo a tempestade lhe tocar e eletrificar por dentro. Há quem busque o sol e prefira estar no sossego com alguém que faça cada segundo valer muito mais tempo. Diferentes visões que diversificam cada um de nós criando todo o processo da vida. Se fôssemos todos iguais não haveria enriquecimento da alma no sorriso e na troca de olhares que causam o apego. Andei mais um pouco e avisto a árvore que fica em frente a minha casa. Costumava abrigar uma família de pássaros que se mudou. Até compreendo, esse frio deve arder a asa. Ao passo que passo pela minha porta mal vejo o final do meu quarto, está tudo escuro. Enquanto procuro o interruptor ouço um gotejar na janela e o sol que pouco se pronunciava já não irradia mais o pouco que irradiava. As nuvens não tardaram e começaram a jorrar água nesse dia tão inato. Com a chaleira fervendo preparo um chá. Nem costumo beber tal bebida mas precisava de uma boa desculpa para algo eu esquentar. Afinal o chiar da água a fever é bem prazeroso de escutar. Tiro meu casaco, touca, luvas, bota e boto meu chinelo. O ar dentro da casa está bem gelado, é questão de tempo até eu ficar acostumado. O frio é bom, dá pra se aquecer com um cobertor em lugares fechados. Na rua usamos mais roupas mas não é difícil ficar confortável. Não é nem questão de vaidade, a gente se veste bem por vontade e só se dispõe do calor de tudo isso para se aquecer com nossa cara metade.

Jkrause
Enviado por Jkrause em 14/11/2018
Reeditado em 11/04/2020
Código do texto: T6502197
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