Terra Brazílis

O que fazer quando não se tem carro blindado, corpo fechado e condomínio isolado?

A resposta é trem da Central, culto na Universal e conjunto habitacional.

Perdoem, talvez seja a escolha praticável, mas convenhamos nada racional.

Quem se submeteria espontaneamente à privação, insegurança ou ao caos?

A sensatez não induz a riscos visíveis, do contrário,

Seria sabotar a liberdade das escolhas possíveis.

O que fazer quando se perde a fé?

Entrar de sola nas drogas não é opção,

Muito menos dirigir a 100/h na contramão.

Não há a quem queixar quando se está só.

Como nutrir a fé e a esperança, se estamos órfãos nesse mundo de Jó?

Rostos sem identidade em roupas de grife,

Pés descalços no asfalto e sapatos na praia privada da elite,

Todos correm, todos se agacham, todos se escondem.

Atrás de muros ou das grades de alumínio num estado sem ordem.

Quem será meu inimigo?

O cara que me assaltou (no ônibus) semana passada?

O velho político em nova campanha do mandato futuro?

O colega que roubou minha vaga no emprego?

O carinha com uma faca atrás do muro?

Quem irá me responder?

A quem pedir socorro?

Tanto faz se estou na cobertura ou no alto do morro.

Dos céus nem a chuva cai chuva direito.

Mas a bala perdida encontra mais inocentes que suspeitos.

O desencanto tomou as ruas e as casas.

São pais sem filhos e filhos sem pais.

Idosos sem netos

Estamos frágeis e somos mortais.

Morremos por dentro e por fora,

Por desgosto, pela espera, pela demora,

Mais gente morrendo que em guerras.

Estamos em terras sem alvos, mas aqui não há paz.

Recebemos turistas e refugiados.

Gente sem eira e nem beira, caminhantes, qual escravos.

Países do sul querendo nadar no nosso Atlântico.

Talvez trazendo na mala malária e sarampo,

Mal sabem eles que também temos mosquitos e vermes

e nosso Atlântico virou pântano.

Filhos e filhas desta terra, antes varonil

Arregacem as mangas e levantem a voz.

Nossa história arde em chamas,

Antes fossem aqueles que no inferno nos fazem viver.

Nunca se viu tamanho desrespeito,

Em todas as esferas e até debaixo das pedras,

Achamos corruptos e corrompidos

Os legitimamente eleitos não velam por nós, nos fazem morrer.

O êxodo dos que podem, não contempla o povo insatisfeito

Os que ficam engolem a dor muda e hemiplégica.

Damos adeus aos nossos filhos e abraçamos estrangeiros.

Antes éramos pátria amada e mãe gentil.

Hoje, somos Babilônia e temos vergonha de morar no Brasil.

_Rose Paz_

Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 16/11/2018
Código do texto: T6504143
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