Gaiola diante da Primavera

Voa pássaro tão belo que outrora pousou em frente a minha janela. Que é teu todo azul do céu, toda mata e cachoeira. Voa através da névoa e da chuva fina. Ouço o som da chuva. É a canção mais curativa que há. Vejo um arco-íris por detrás de ti.

Que posso oferecer-te ? Grãos de alpiste ressequido, um pouco de água morna, e esta gaiola tão agorafóbica, tão exposta ao sol. Esta anilha incômoda na canela. Que posso exigir de ti? Nada.

Mas quando puder traga um ramo de oliveira para mim. Cante num galho onde eu possa contemplar-te. Deixa-me derramar sentimentos confusos em forma de lágrimas. Pode ser saudade de um sonho bom. Não te entristeças com minha tristeza. É só minha. Daqui minha única diversão é sonhar. E um dia sonhei estar voando ao teu lado. E foi maravilhoso, mas acabou. Como posso proibir-te de saborear todas as frutas, sentir todos os perfumes de todas as flores. Interagir com outros pássaros tão livres e tão belos quanto você? É tudo o que eu mais desejo e temo, pois sou pássaro de gaiola, de asas frágeis e atrofiadas, pesado e desorientado...

Voa pássaro! Voa!

Brinca com as róseas nuvens do horizonte. Descubra o que há por detrás daquele monte. Sinta o frio das grandes altitudes e tantos caminhos de brisa e de rosa dos ventos.

Cá estarei, orando por ti, aguardando-te com novas histórias para contar do dia em que pousaste no dedo de um querubim ou de quando um tornado te desviou para um lugar desconhecido e maravilhoso. Mas quando puder jogue por entre estas grades imagens de paisagens na forma de canção e poesia.