OS IMORTAIS

Só quando a humanidade invadiu a Terra

É que eles emergiram da escuridão.

Nunca antes se comprovara a sua existência.

Mas ei-los por aí em todos os lugares do planeta:

A sugarem o sangue daqueles que amam a vida,

A usurparem o suor de todos quanto trabalham,

A derramarem lágrimas de crocodilo por quem sofre,

A distribuírem sorrisos cínicos pelos mais incautos,

A fazerem promessas estéreis pelos muitos desesperados…

Sempre que necessário for,

O imortal rebaixa-se ao ponto de partilhar a mesa com a plebe;

Em questões de honra, chega até jurar pela alma da sua imaculada progenitora;

Lança névoas obscuras quando é preciso assumir responsabilidades

E defende-se com evasivas nos temas mais sensíveis.

Ele aparenta ser solidário com quem não consegue honrar compromissos,

Mas não mais que isso: Por mais vasto que seja o seu património,

Este é dramaticamente curto na hora da verdade.

E atenção:

Por mais que ele em “on”, sorria ou em “off”, chore (*)

Que ninguém jamais acredite na sua língua viperina!

Todo e qualquer imortal é um ator nato

- Eles são os candidatos exclusivos

E os crónicos vencedores dos óscares da Hipocrisia da Vida.

- Ah! Maravilhai-vos, vã plebe!

Olhai como desfilam deslumbrantes nas passadeiras vermelhas

Os mestres sedutores das epidermes retocadas e das poses mediáticas.

Mas, apesar de tudo,

Até os mais engenhosos truques

Acabam por se revelarem grosseiros traques (**)

E um dia a realidade cai-lhes friamente nos braços:

A imortalidade terrena continua a ser um mito indefensável!

Depois de tantos extraordinários vendavais semeados,

Aguarda-os infindáveis searas estéreis para colher!

E eu,

A quem já prometeram e depois negaram,

Ora aqui sorriram e ali choraram, mas tanto mentiram…

Eu, que nunca fui, nem pretendo ser,

Um desses tão adulados imortais,

Saúdo a Deus pelas maravilhas da Vida,

Mas também lembro a Morte...

- Graças, pela Vida, onde podemos ser tão diferentes!

- Graças, pela Morte, que nos torna a todos iguais!

09 e 10 de Fevereiro de 2016

(*) off”, chore - deve ler-se também como off shore.

(**) traques - flatulências.

NOTA:

Como prometi no texto anterior, eis o poema de intervenção de 2016 que me vez parar para pensar. Não escrevi nada mais durante meses - entendi que esta passaria a ser a minha nova linha de orientação.

Vejamos se consigo voltar a atingir este patamar.

Votos de **BOAS FESTAS & FELIZ ANO NOVO**

Abílio Henriques.

HENRICABILIO
Enviado por HENRICABILIO em 22/12/2018
Reeditado em 28/12/2018
Código do texto: T6533270
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.