Outros caminhos

Me peguei olhando pela janela de novo

foi ontem

meu ônibus estava um pouco quente e as ruas agitadas

Não sei muito bem o que estava acontecendo, mas sei que estava acontecendo alguma coisa.

Avistei uma garota pulando corda e um menino magro, pálido a observando

ele não tinha um ar sereno.

Vendo ele sentado na calçada, tive a sensação de que ele imaginava que ninguém o estivesse olhando

Levantou, pegou a corda e correu feito um louco.

Correu muito

Correu tanto que meus olhos o perderam de vista.

O farol ainda estava parado, portanto deu pra ver a cara de perplexidade da jovem

Sentou, levantou, bateu os braços e saiu andando.

Fiquei com raiva, MALDITOS LADRÕES DE CORDA - eles sempre se safam, pensei.

O verde deu o sinal e o ônibus andou

Voltei ao meu mundo, mas o meu mundo só queria saber da corda roubada.

Meu mundo se perde em detalhes e se deixa levar com certa facilidade

ainda não decidi se isso é bom ou ruim,

apenas aceito.

Será que a corda era dela mesmo e o menino estava tomando-a de volta?

Devia eu me preocupar tanto com a vida alheia?

Se eu não consigo sentir compaixão por uma menina que tem a corda roubada, por qual situação irei sentir?

Não consigo me sentir parte de um mundo em que ladrões de corda vivam impunemente.

Chegou meu ponto, saltei

Por puro instinto segurei minha mochila com mais força do que o habitual

ladrões de corda podem ser ladrões de mochila também, como iremos saber?

Por sorte nada aconteceu e passei ileso.

Fui tomar um banho e me peguei olhando novamente pela janela

dessa vez a do banheiro.

Lembrei do menino

Será que ele conseguiu criar justificativas para si mesmo?

Será que ele aceitou a sua natureza de roubar cordas?

Ás vezes acho que essa sensação de estar sempre vendo o mundo por uma janela nunca vai passar

Me acho um covarde

Só porque não me sinto no mesmo mundo que o ladrão de cordas, não quer dizer que eu não seja.

Já esta tarde.

Amanhã irei mudar meu caminho da volta.

Gabriel Barban
Enviado por Gabriel Barban em 21/01/2019
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