Chuva e lembranças de outras tardes

Choveu há pouco, não chuva de tempestade. Chuva mansa, mas intensa.

Não durou muito e o cheiro da chuva trouxe tantas lembranças de outras tardes que mais parecia que eram elas.

Fui correndo à janela para ver correr no chão a enxurrada

e vi o tempo trazendo um menino que brincava.

Imaginava talvez o mar, uma viagem, ou sabe-se lá o quê.

Eram olhos inocentes desses que se tem aos oito, nove no máximo,

bem ao jeito de outros tempos, quando nem havia asfalto.

Esse que vê da janela, bem reconhece o menino que não vê senão a chuva, a água escorrendo da tarde, da vida nela concentrada.

Nem imagina que um dia a se ver da janela com olhos cheios de imagens, vividos, até um pouco cansados, sentiria tantas saudades.