A PRESENÇA DO ETERNO

Neste mundo tão conturbado, com tantas guerras acontecendo, com a mídia tão saturada de violência e de interesses comerciais, é preciso que se tenha audácia para falar de paz, não a paz ilusória, fantasiosa, mas aquela que começa na pessoa, em mim e em você, que ultrapassa o entendimento e mora no coração daqueles que vivem na presença do Divino, do Eterno. Fica um convite para refletirmos sobre o papel de cada um de nós na criação de um mundo de paz e harmonia. É muito fácil depositar a culpa nos outros crendo que não temos responsabilidade na condição miserável em que a humanidade se encontra com o jogo brutal que existe nas nomeadas relações empresariais, com a miséria, a doença, a dor e a fome que estão presentes em tantas partes do mundo e também aqui mesmo, ao nosso lado. Oh sim, nós também somos responsáveis pelo mundo, pois ele apenas reflete tudo o que existe em nossa subjetividade: presunção, o orgulho, a soberba, o medo, desejo de se sobressair, enfim o "eu" de cada um com sua permanente busca pelo sucesso, que vai gerando insensibilidade, ganância e, dessa forma, violência em muitos corações. Assim sendo, a transformação do mundo passa primeiro pela profunda mudança em nós mesmos, essencialmente, pela aprendizagem com tudo o que ocorre em nossa vida, com nossos desejos e anseios, motivações secretas e com todas as relações que fundamos na família, no trabalho, na vida social, comercial, etc. Carecemos de maneira honesta nos perguntar se nossa vida é harmônica, se averiguamos a presença de dificuldades, como ânsias e frustrações não entendidas e relações em conflitos, cabendo-nos observar a nós mesmos cuidadosa e pacientemente até descobrirmos, em cada momento, a origem da desarmonia, que não está nos outros como sempre julgamos mas dentro de nós, em um lugar reservado e não percebido do nosso próprio ser. Em nossa inconsciência e incoerência criamos uma vida de prazer e fuga da dor e, atrapalhadamente criamos uma vida de busca do prazer e fuga da dor e, atrapalhadamente vamos gerando conflitos dentro de nós e nas nossas relações com os outros. As dificuldade e os problemas que vemos nos outros deixam de existir quando nos relacionamos perfeitamente, respeitando a liberdade essencial inerente a cada ser humano. Percebem como é importante a ação individual e que, por ela, podemos criar um mundo de paz e harmonia? Que cada um pode ele mesmo, ser paz? Porque se não formos nós próprios os instrumentos a paz e a harmonia que ansiamos ver no mundo, essa transformação desejada será quimérica, uma simples fantasia e talvez, quem sabe, uma mera tentativa de fuga das condições caóticas em que vivemos nos tempos de hoje. Creio que a busca da paz que parte somente do desejo de não ser apoquentado é tão simplesmente uma forma sutil de insulamento e de egoísmo que vai acabar gerando dor e sofrimento. Se existe uma paz que excede o entendimento, ela carece ser localizada no que há de mais profundo do nosso ser, que toca a dimensão do que em nós é sagrado. Julgo que através da meditação, não apenas o ato de cruzar as pernas fechando os olhos, mas o ato de essencialmente observar atenta e com cuidado tudo o que se passa, a cada momento, dentro e fora de nós mesmos – podemos aprender psicologicamente a perecer para o nosso apego a tudo que é efêmero e de importância relativa para, naturalmente, encontrar, na nossa mais íntima e profunda interioridade, a presença do Eterno. Não é uma tarefa fácil, porque estamos sendo invariavelmente argüidos pelas influências discordantes que surgem de dentro e de fora de nós. Entretanto, se concentrarmos toda a nossa energia em encontrar a fonte primordial da vida, que é interna e de onde tudo provém e nela colocarmos a nossa força mental, a nossa consciência, com certeza a paz e a harmonia fluirão espontaneamente, sem depender das condições externas.

Não sei Amigos, mas a Paz assim construída será a Paz que todos almejamos para nós, nossas famílias, nossos Amigos, nosso País e para toda a Humanidade deste planeta que habitamos. Sejamos Páscoa, sejamos Paz!

Regina Carvalho