Temporal

Me sinto água que invade casa fechada. O próprio temporal que cai sobre uma cidade e encontra brechas entre telhas e espaço entre o batente e a porta. Entrei sem pedir licença, sem avisar. Tomei a casa em um abraço molhado, invadi quartos e lugares fechados. Lavei e joguei fora junto com minha água, o pó da casa, as teias de aranha, o resto de café grudado no azulejo. Invadi e não me orgulho. Mas precisava entrar, descobrir a casa e seus cantos e recantos decorados de forma singular. Precisava sentir o cheiro e o calor da casa. Precisava molhar, só não precisava invadir.

O sentimento que surge sem pedir licença, que invade sem saber da opinião do invadido. Que cresce e faz brotar palavras nunca antes ditas. Que inquieta, que pede atenção, que chama atenção e faz autopropaganda.

Não sei sobre como está a casa depois da água invadida.

Essa foi a visão da água...