Vanity
O relógio jogava os ponteiros dentro da noite
Noite fria e chuvosa, meados de Maio, triste entardecer
E em algum lugar do planeta, alguém via o sol se pôr
Outro alguém pedia desculpas, e se arrependia logo depois
Vida que segue,
Planeta girando na roleta.
Obra envelhecida pelo sol
Esperando o tempo passar,
Mesmo sabendo que quem passa somos nós,
Porquanto é mais tranquilo fingir o que se vê
E em devaneios,
Acreditar que temos a mesma jovialidade de dez anos atrás,
Deixando de lado a melhor vaidade de envelhecer.
Partindo desse ponto, jogo-me aos lobos:
Me vem à memória aquele fim de tarde, perto das dunas,
Na estrada de Genipabu
Você precisava ver aquele frenesi de coisas acontecendo
Gente jovem, cabelo ao vento, passeios de buggy, bebida, drogas
Carros em alta velocidade, vários ônibus cheios de turistas
Um buggy para bem do meu lado
O rapaz que dirigia me pergunta:
- Ei, cara! Essa é a estrada que vai para Genipabu?!
As garotas no banco de trás me olham com um olhar engraçado
Minha roupa preta, meu óculos escuro,
Meu cabelo grande e solto ao vento que soprava,
Uma guitarra nas costas, uma mochila na mão.
Elas deviam estar pensando: "que cara mais estranho!"
Bem, eu viajei por um momento, mas logo lhe respondi:
- É sim, cara! É só seguir reto e no trevo entrar à direita!
O buggy saiu em disparada como se fosse para o fim do mundo.
E bem próximo dessa estrada, mora um amigo meu.
Segui andando pela via reservada aos pedestres,
Cogitando que entre mim e minha solidão,
Somente o peso da minha guitarra.
Vendo o sol se pôr ao longe
Uma mistura nervosa de asfalto, veículos, casas de alvenaria, fazendas, currais e vegetação praiana...
Cara, que loucura!
Um êxtase total,
Em completa harmonia com aquele lugar.
Decidi não passar na casa do meu amigo,
Ele ficaria bem, não haveria problema em ficar para depois,
E deixar que aquela rua fosse minha,
Pelo menos por um instante.