Showzinho de Justiça

Sem premeditação, exatamente em 30 de janeiro de 2018 escrevi um texto curto sobre o lugar-comum da justiça. Numa síntese, faço uma meia-sátira onde busco contrabalancear o fato de um juiz acalmar um bebê num litígio, durante um julgamento. Um ato de um super-homem, e ainda por cima negro. O que já era incomum um juíz negro desse século acalmar um bebê, abrilhantou com o fato de ainda estar conduzindo o litígio simultaneamente e avaliando as partes conforme a condução do bebê no colo. O caso foi real e aconteceu na Bahia em meados daquele mesmo mês e ano.

Em seguida, em 16 de abril de 2018 escrevi sobre os "Juízes perdizes". Lá eu comento sobre um movimento ético dos juízes e da próprio povo em acreditar numa tal justiça neutra, daquelas que supostamentes conseguiriam analisar fatos sobre circunstâncias diversas do sofrimento do seu povo. Isto é, parece possível que as palavras e as leis existam, ao ponto de acreditarmos nas instituições e na gramática completamente em substituição do que se vive, por outro lado sabemos que viver é outra coisa, e que dependendo do seu estado, muitos dos limites impostos são pequeníces de um mundo tirano.

Ou não é assim que o tirano do juízo julga a pobreza? Sempre acreditando que ela pode sofrer poética, pacifica e eternamente sem enlouquecer: pela falta, necessidade?

Pois bem, mas a frente em 30 de maio de 2018, quando já havia se passado quatro mêses do primeiro estalo e um mês após o segundo movimento com registro de texto, a revolta com os juízes crescia não só por ver um do povo (presidente) preso, mas também pela loucura do nosso povo em acreditar na justiça neutra. Na verdade, daqui da favela vivemos realidades loucas o tempo todo, desde de tiranos que passam em altas velocidades (em ruas com crianças, diga-se de passagem), atirando para todos os lados, até juízas - mulheres (sensíveis) - dizerem que devemos acreditar na palavra do estado, pois o policial é a verdade do estado, até que se prove o contrário. Concluímos sem muito esforço intelectual que grupos (Juíz, policial: Estado) - sem maquiagem - é coisa para pedirem matança - mesmo que indiretamente - de outros grupos, vamos combinar isso, sem demagogia.

Até aí tudo bem, mas e se isso fosse uma porta para um entendimento comum para vender uma tal de justiça, diga-se, caríssima por milhares de séculos? Ou será que alguém conhece ou tem idéia da sifra que pode chegar o sistema de justiça?

Onde está o maior corporativismo e entendimento sobre o comportamento ético do seu povo? Muito bem, pensando nisso que escrevi em 30 de maio sobre os laços do corporativismo, não como Foucalt sob os olhares da vigilância ética do panoptismo, mas agora, pensando no lugar-comum das ideias, que atraem muitos outros às decisões. É a velha condução dos cordeiros, daquele discurso que toca a sensibilidade das vidas, simplesmente por citar fatos alheios a ela, íntimos, que nos seduzem senão pela semelhança dos fatos, então pelo encanto do que virá pelas decisões, aparentemente e supostamente melhores.

No texto que tem um nome inusitado e prático para a realidade do momento no Brasil, digo no título: "Com a Petrobras com tudo", não porque tento ligar o fato do ministério público querer usar ou mirar o uso do dinheiro devolvido à petrobrás nos processos, o que já é muito suspeito, mas, por outro lado, por temer o ódio de classe fruto do distanciamento e que cada vez mais mostra seu distanciamento, sem retorno.

Acho que agora vemos esses juízos, ou melhores juízes que cresceram nos poucos condomínios dos sobreviventes de outrora, cercados com os pais dizendo-lhes que eram bons e que estavam certos, e que deviam estudar muito. Pois bém, eles estudaram, e estão certos, se alimentaram bem, mas não viveram com seu povo em geral, e portanto, pouco sabe dele. Falta-lhes sensibilidade para entender que existe o outro, não com a sensibilidade exatamente pois isso é coisa da experiência, mas em segundo plano buscando entendimento na sensibilidade, quem sabe vivendo o que os outros experimentam, o extremo da desgraça.

Viver a desgraça deveria ser um curso obrigatório para ser juiz, isto é, todo juiz a partir de hoje não é que deveria viver a experiência das condições mínimas em algum momento num estágio de alguns anos, mas deveria ter nascido pobre para entender as milhares de consequências que se dão diante das milhares de necessidades que se avolumam na psiquê de um indíviduo que sofre com problemas básicos.

Como eu falei da saga dos juízes mandatários, com a petrobras com tudo, juízes perdizes e o manifesto do lugar-comum da justiça, concluo esse texto com uma odê a justiça, que desça na medida e pare de pregar neutralidade, pois somos pobres mas burros jamais. Prisão para aqueles que não buscam entender o outro já!

E diante do showzinho da justiça, diminutivo usado apenas com os amigos, o showzinho é ver que mesmo nos mais altos postos da toga, a ignorância é não conhecer e julgar, baseados em si mesmos, meninos, selvagens, lobos de si, colegas de universidade: não proteja os seus e mate os demais.

Para concluir, na verdade eu gostaria de mirar nesse texto a decadência dessa classe, entretanto não consigo mais, minha intuição se foi com essa síntese. Por outro lado, se estes juízes não reconhecerem o problema maior sobre "O que é a justiça num país pobre", vou continuar minha saga que vai de entender sua selvageria e pregar novas instabilidades, ao ponto de visar no que virá, vergonha ética inevitável até para os altos postos hierarquizados, dirá nas próprias Universidades com muitos professores.

Não precisamos de justiça que mata, precisamos da justiça que acolhe e que busca tornar seus concidadãos amáveis, através da educação como ponto de partida para abrandar as almas. E não só com ela (educação), mas também dando condições para que seu povo fique mais calmo, pois, se a solução é plantar para não morrermos de fome, por que ainda não temos hortas públicas e árvores menos sofridas para cuidar dos seus filhos?

Pingado
Enviado por Pingado em 15/06/2019
Reeditado em 15/06/2019
Código do texto: T6673405
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