Depois da Guerra II- O caminho do Retorno 18

Voltar ao começo, plantar e regar o jardim de casa, arrumá-la, fazer a comida de primeira, não desviar das primícias de sua natureza.

O gênero tá mexido, virou um pouco camaleão, misto do bom e do ruim, ficou acinzentado pela lógica do sobreviver a qualquer custo.

Fazer-se bonita por mera liberalidade, ser no perfume genuíno, como o Flautista e a Flauta representa para o encanto e o motivar a serpente a dançar, a mulher também, é capaz de encampar e conquistar o mais inflexível do masculino, pelo puro contentamento de tão somente servi-lo, no carinho, nos cuidados de cama e mesa. Muitos reinos e reis foram destruídos pelos efeitos colaterais destes atributos.

A mulher de hoje perdeu a inocência marota, despertou para a sobrevivência. Mesmo aquelas que desenvolvem e estabelecem nestes maus dias em felicidade, por tão somente ser, bebe água olhando para os lado para ver de onde vem o perigo.

Sofrer tornou realidade comum, aceito, digere o sofrimento como canja de galinha. Sabe que tem que se pegar pelas mãos, apequenou o olhar para a esperança, agigantando o ímpeto para vencer o hoje e se bastar. Mesmo que tenham parceiros que partilham ajuda e cuidados, adotaram o costume de confiarem em si mesmas, por pura garantia contra perdas e danos na viagem.

Os projetos, ideais, expectativas, são cada vez mais para ganhar território, fortalecer as blindagens e divisas, ter o dinheiro, o título, a profissão, garantidores da sobrevivência.

Aquele quê específico do feminino realizar, no tecer de um trabalho artístico, usar a assadeira para a feitura de um assado, o gosto pelo realizar um dom artístico que lhe faz bem, está ficando no cantinho dos fundos de suas almas, quase esquecidos, pouco utilizados.

A tecnologia desenfreada a substituiu pela máquina e pela comunidade, que cuida dos filhos para que ela trabalhe, trabalhe. Vozes do futuro ecoam que até útero mecânico preterirá o feminino para gerar vidas.

Além da industrialização alimentícia, facilitando a ela aderir aos produtos e serviços da sociedade do consumo , por pura falta de opção, rendendo-lhe menos gastos de tempo consigo e a família, para dedicar ao trabalho.

Mais e mais necessita e depende do dinheiro, para cobrir os gastos crescentes com a substituição de suas mãos no trabalhos domésticos.

Neste círculo vicioso, ela ainda está, há a luz acesa tenuemente no coração, sua alma ainda emite brilho, porque o colorido do mundo ainda é percebível em tom pastel, pelo sorriso dos filhos que as recebem quando retornam da escola com elas para casa, do gosto de receber o salário e ter para pagar as contas, da agudez natural que tem, vontade desperta da busca do conhecimento e aperfeiçoamento profissional, o embelezamento do corpo, e da sua perfeição estética.

O pulso ainda pulsa.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/06/2019
Código do texto: T6673880
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