COMO SURGEM AS NARRATIVAS
O escritor costureiro tece com o choro de uma criança, o olhar de um velho, o brilho das estrelas, a ausência da lua, o perfume das flores, o barulho da chuva e a até a sequidão de um sorriso o vestuário sagrado que ele chama de sua solidão.
Essas impressões se colam na retina do escritor antes e depois burilam nos tímpanos de onde escorrem sem pontuação por dentro de não se sabe onde e saem na pele por minúsculos poros depois de salgar um órgão oculto que a ciência ainda não descreveu porque fica perto, logo depois oculto mas do lado longe, onde as impressões sedimentadas formam a superfície de um lago de imagens onde nada existia como antes.
Entretelando reviravoltas, o escritor costura o coração da narrativa encoberto de texturas.
Assim as histórias são feitas, de fios invisíveis que surgem de um quase nada entrelaçado a outro quase nada menor ainda sobreposto ao que parecia demolição.
Do que veio habitar o retorcido espírito surge o que não haveria sem o mistério de minérios liquefeito.
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Baltazar Gonçalves