Elucubrações

Caía a tarde na praia da Saudade. Ao fundo uma fina névoa de final de inverno contrasta com o azul prateado do tranqüilo mar. Gaivotas sobrevoam, tranqüilas, parte da orla, como se ludicamente bailassem ao som de uma sonata. O sol, que se esvaí por detrás da grande ilha, pudicamente beija o mar, como faz quase todos os dias. É um final de tarde ameno, com uma leve brisa envolta por uma casta sensação de bem-estar, e que ressoa suavemente o marulhar cadenciado de ondas do mar. Nessa época do ano, na praia da saudade, o cheiro do mar salgado se confunde e mistura com o aroma doce da flores do lindo Ipê, que se enfeita todo para agraciar a nova estação que está por vir.

Descalço e com as barras das calças arregaçadas até a altura das canelas, um garoto caminha pela praia, acompanhado de seu cachorro. Sereno, escuta, alegremente, em seu discman, Madre Deus:

Baila a menina, ou

Baila o menino

É cedo ainda

'Inda é cedinho

Certamente não é a primeira vez que desfruta momentos tranqüilos e agradáveis como este, nem será com certeza a última. Quantas foram as noites em que jogou pedrinhas rasteiramente ao mar, somente para vê-las flutuar sobre o reflexo alvo do luar? Quantos foram os devaneios oníricos que permearam os seus sentimentos? Recordações presentes ou elucubrações profícuas apenas ao escritor?