Dois Mundos
 
Venho do próximo, da primeira esquina. Quisera dizer assim: tão bom, tão lá. Afoito e gono digo amém para os que passam.

São todos transeuntes de meia-hora. Cada um por si e virem-se todos. A estibordo percorro olhos que já se foram. Mas água de vara curta, cutuca: sei lá, aprontem os laços e deles façam nós.

Quisera eu, de bom grado, dizer pra todos que estou aqui. Surrupiado de vazios e obrigações que já não me dizem nada.

Acordo cedo como bom cavalgador. Assisto meia-hora o rebater do sol em minhas flores. Pobre jardim já enciumado de tantas belezas!

Sou inofensivo. Se bater, não bata com a corda toda. Se apanhar é uma vez só. Se renascer, Oh! bom Deus, me faça renascer de novo, bem longe daqui.

E se alguém cria um, cria dois. Ah! bom Deus, escondes o segundo mundo, bem debaixo do manto santo.

Sabe o endereço. Pois conta pra todo mundo saber. Pois quem cria um, cria dois. Por que ia criar apenas um, neste que agora solapamos?

Se criou o segundo, então somos irmãos de sangue. Nós e lá no fim do mundo.

Se criou dois tem que falar, senão perde a graça. Mas pra onde vamos com tanta pressa se há o segundo pra visitar.

Não sou cowboy de primeira montaria. Mas se consigo apalpar uma estrela, por que não, a segunda e a a terceira até ter certeza que estou louco e infindável?

E se alguém souber, assopre. Estamos aqui de brincadeira, onde uns riem de lá e outros sofrem de cá.

Se tudo isso não vale, então diga, o segundo mundo que está em algum lugar e a gente igual a barata tonta, andando de bengalas e pensando:

- Ora, ora, seu Mané, traga mais uma, que lá vou pro segundo, se não o tal mundo, vou pro sono passageiro.

- Não, seu Mané, traga a garrafa toda, no segundo pode faltar !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 11/07/2019
Reeditado em 11/07/2019
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