Círculo de Ouro
 
Círculo de ouro é aquele que não se fecha, é aquele que ronda seu corpo, como uma auréola invisível. Você não sente, não ouve, mas está em seu circuito, como pérola mágica que faz parte de seu corpo.

Tenho um círculo de ouro que se esvaiu com o tempo, que se perdeu com o passar das horas.

Na verdade, não soube negociar sua imensidão com minha pequenez. Não soube averiguar de onde vinha tamanha magia, nem manuseá-la como bem faz um mágico.

Tinha tudo para sobrevoar imensos espíritos iluminados com suas lâminas douradas. Tive todas as ocasiões para fazer dele parte de mim.

No entanto, veio tempestade, espoucaram trovões na medida em que as coisas cresciam. Pelo destino escrito para mim, não correspondi ao roteiro de luzes.

Baqueei no primeiro par de olhos. Que fazer, se sentia naquele momento o augusto, a áurea, as nódoas que me passaram a prender na terra.

E fui assim subjugado por um par de olhos.

Que fazer se lá morava parte de mim, do que seria meu futuro, parte de mim, parte dela.

E o tempo passou diferente. Não havia mais casulos para se esconder nem o que ligar. O futuro estava longe, como uma porta que nunca se abriria.

Tomei folego e parti para a falsa modéstia do destino e me embriaguei pela falsa vida.

Tomei passos e suas trilhas tão estranhas, que fica difícil até contar.

Só um mágico que entende de duendes e fantasias poderia entender porque perdia meu círculo de ouro em troca de um par de olhos esverdeados, uma blusa jasmim, um lenço displicente atirado ao pescoço perfumado.

Foi meu valão onde me meti como um cavaleiro que perde as
rédeas. Como um fidalgo que perde seu reino.

Acreditei na minha certeza e fui acabar longe de tudo e de todos.

O que era, havia desaparecido. O que se formava, se desvaneceu em segundos.

Quando acordei estava diante de ninguém.
E lá de fora alguém chamava - "Vai Antônio, persegue...".

Mas não havia mais corrida, nem luz, velas, cristais, peças de ouro, nem estrelas, nem o espargir do meu espírito tinha mais ângulo.

Era apenas um pedaço andante. Uma voz eloquente, sem ouvintes, um redemoinho vivo de perguntas onde não ouvia nenhuma resposta.

E foi assim, meus senhores, amigos da plateia. Sempre fui íntegro e sem parcimônias. Meu discurso é simples.

Hoje rezo para voltar à infância e pegar aquele pedaço de ouro,
tão brilhante e iluminado. Segurá-lo junto ao coração e nunca mais seguir caminhos sem trilhas.

E um dia houve um homem de tão grande e faminto pela vida que se agarrou ao primeiro passageiro e mergulhou até ao fundo de sua alma em eterna agonia.

Agora, seu Antônio, seu tempo já passou. Roubaram seu ouro. A festa acabou e o discurso chegou ao fim.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/07/2019
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