exposta

lembro de quando ela olhou nos meus olhos e disse eu estava opaca. sem luz, sem vontade, quase que sem vida. guardei as palavras dentro do meu corpo magoado. eu lembro de chorar e ela me segurar nos braços falando que queria me ajudar. deixei as lágrimas e o sono tomar conta naquele sofá com cheiro de incenso. e depois as palavras dela falando que era difícil viver ao meu lado, que era triste olhar nos meus olhos e não ver esperança.e lá se foi, escorrendo como água por entre meus dedos, a última pessoa da família que possuía alguma esperança na minha pessoa.

não contei a ela, mas foi naquela noite que pensei em cortar as grades da janela, não o fiz pois não quero ser um fardo ou mais uma ferida no corpo de alguém. prefiro elas no meu corpo.

e de fato, no fundo, gosto delas. e nestes 22 anos minúsculos e esquisitos, descobri que minhas marcas e minhas dores são meus maiores bens, pois são unicamente meu. e isso foi tudo que aprendi a ver no espelho. meus defeitos, minhas dores, minhas angústias. só eu sei o que sinto. só eu sei que isso não vai passar. só eu não quero que passe.

e isso pelo simples fato de que não sei ser outra coisa. não ser eu sem minhas marcas e feridas abertas e dores expostas. não existe um eu que não sangre todos os dias.

caroltell
Enviado por caroltell em 02/08/2019
Código do texto: T6710832
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