Bodas de lã


para meu novelo vivo
Micaele, o ar de meu respiro


Das brancas ovelhinhas tiro o leite e as mais finas lãs de que me visto. Dirceu não sou nem você minha Marília. Mas também sou tecedor, cujas lãs são palavras que entrelaço. E você também é musa para quem minhas poesias faço. E assim, neste moderno mundo, vamos vivendo nossa arcádia, carpe diem em pele marcada.
 
E nada melhor que iniciar o ano com aventura estradeira. E fomos nós guiados pela Poderosa as praias nordestinas. Quatro estados percorridos e múltiplas culturas sentidas. Amigos nos acompanharam em intelectual sabor no limão de picolé. E foram tantas ondas abraçadas e passos em calçadões. Este arretado cabra-amado de uma dona-arretada. Frutos do mar, mergulhos, arvorismo, tirolesa, rapel... seu rosto de anjo lindo na mão grafado em tinta-pincel.
 
E na capital mineira fomos encontrar uma máxima alegria. Aquela que se tornou de nosso lar a razão primeira de nosso afeto. Uma pequerrucha para sempre nossa filhinha. Um amor que veio para descortinar nossa rotina do chão ao teto. Seu nome já traz a força-mulher da arte de encantos surreal. Se pudesses ler, sentirias estas palavras de carinho, linda Frida.
 
E as viagens continuam abrindo mais que nossos caminhos. A família apresentada à terra belo-horizontina, com direito ao sabor de pinguim. E, é claro, agora companheira de estradas, a pequena Frida com seu encanto só. Mas sós estivemos nós dois, juntinhos em outras aragens também por praias margeadas. Os braços do Redentor nos acolheram na terra carioca, e o bondinho nos dando a visão açucarada do morro. E foi aqui que você, minha morena de neve, me acompanhou para graças literárias, com direito a diplomas e medalha. Mas o maior prêmio é ter você sempre ao meu lado me dando esse sorriso que me deixa cada dia mais amado.
 
Também aqui nas minas, terra nossa catrumana, juntos de eventos participamos. E seguimos de mãos dadas na labuta professoral que escolhemos para traçar. Das viagens, cansado, quando chegava, na cozinha com o carinho de uma janta já altas horas você me esperava. E, alguns meses, seguimos assim. Até um desafino de nota em que com sua força motriz, uma decisão ousada eu fiz.
 
Falando em som, nosso corredor agora está cheio de cordas. E seus dedilhados primeiros no ukulelê. Você tem disso, de empolgadas cenas. Mas estarei em seu pé, ou melhor, em suas mãos para lhe harmonizar os acordes. E olha só, finalmente em minhas mãos aquele diferente teclado que nas celebrações ao Senhor venho dedicado.
 
Ano estranho, meu amor. Às alegrias que tivemos somam-se cenas de um Brasil de espanto. Um cenário de novos governos de incertezas em atos de levantadas sobrancelhas. No mundo também acontecimentos de cicatrizes históricas marcantes. Porém, a dor maior, que você bem sentiu ao meu lado, foi perder aquela mãe que me gerou nas Letras. O meu desabo de pupilo que encontrou nos seus ombros o pouso do choro e a força para continuar o caminho.
 
Você, meu respiro de poesia, no seu incentivo, levou-me a um perene projeto que está nas redes se escrevendo. A cada dia vivido a mensagem da Rotina. Um livro da vida espelho. Uma obra que só tem início e que espero, um dia, seja para a história um selo.
 

Seu Márcio
15 de dezembro de 2019