instantâneo

Houve um tempo em que se acenava
para ônibus, avião, navio.
Da janelinha, até perder de vista,
vinha o branco adeus em resposta.
Pernas curtas corriam pela estrada,
pista, pontão a acenar, acenar...
e o riso em olhos miúdos de expectativa
navegando nuvens, beirando o mar.
O adeus tinha gosto de até breve.
Enquanto isso, cartas iam e vinham
em papel de seda perfumado,
aerogramas nacionais, cartões postais,
com saudações, beijos, abraços para todos.
Mui atenciosamente.
Hoje, se distância não há mais,
com os meios virtuais há imagens.
A inveja dá passagem a textos febris,
emoções figurativas, corações são likes.
E as mensagens - pasmem!
- pós-verdades de charutos rotos,
onde uma rosa não é uma rosa,
mas fio de fumaça a toda prosa,
curtições em experimentos de Pavlov.
A pressa faz o desacontecimento,
o julgar condena a reflexão.
Desumanizar é óbvio.
Do giro da roda o adeus é logo ali...
No próximo clique ao alcance da mão.