Morfológicas fotografias

Gosto de alguém, em algum lugar,

Reconhecendo-se em meus textos.

Todos os meus textos têm alguém.

Todos eles me fazem lembrar

alguém, em algum momento,

comigo.

É como uma fotografia,

cuja cor são as letras,

e a luz, o operador

e o veículo somos nós.

E nós, também somos

os que vêem a foto

e nela se reconhecem.

Somos tudo, somos poetas.

Somos deuses ao escrever.

O mundo todo pode caber

em nossas mãos.

Abarcamos o mundo

e colocamos algo nosso nele.

E o mundo que sai daí,

já nao é o mesmo mundo.

Nós o pintamos

com as cores

que nos aprazem,

ou as cores

de que dispomos

no momento.

E dispomos

de um leque

interminável

de cores.

Se estou triste, a cor é cinza.

E que cor dou à alegria?

A alegria é amarela,

como o sol e sua força,

por que alegria

nos faz fortes

pra enfrentarmos

o cinza da dor

e o transformarmos

em vermelho

da paixão

pela vida,

pelo riso,

pelo outro.

Também podemos

nos dar o azul,

que nos acalma,

e o branco,

que nos traz paz.

O verde,

com a esperança.

Ou a esperança é cor-de-rosa?

como é cor-de-rosa

as maçãs

do rosto de Alina.

E que diremos

das cores da madrugada?

Quando outros

enveredam por caminhos obscuros,

a madrugada, envolta em trevas,

para nós, irradia luz

que na verdade,

sai de nós mesmos,

da fé que agora temos

e de estarmos,

às três da manhã,

sem sono algum.

SIMONE AVER

e