O cravo e o anjo

O anjo diz:

_ A vida é bela, abra!

E o cravo se recusa.

_ Abra! Ordena o anjo.

_ Não posso, o mundo é mal.

Sou delicado.

Porque me destes forma tão frágil?

_ Jamais, lhe disse o anjo, entenderei

um cravo que não queira abrir.

Você é um cravo como os outros.

_ Porém, os outros são mais belos,

disse o cravo em resposta.

_ Só não é como os outros porque não te abre.

Se te abrir, tua beleza refletirá a luz do sol.

E os homens poderam te ver, afinal.

Os beija-flores virão sugar a tua seiva,

E as abelhas, que produzem mel.

(Lembra-te que as abelhas produzem mel).

O mel é puro. E tudo começa com a tua seiva.

Permita que o mundo conheça tua seiva!

Dê ao mundo tua seiva!

_ És, meu anjo, por quem tenho admiração.

Mas, como é difícil abrir...

Os ventos fortes doem quando as pétalas se desagrupam.

_ Deixa eu te dizer que você é uma das mais belas flores

que me foi permitido criar.

Necessito de ti para alimentar outros seres.

Deixa de ser egoísta!

Não convém egoísmo a um ser tão bonito.

Abre!

E o cravo, que não queria abrir,

Permaneceu pensativo.

Mas, as palavras do anjo lhe tocaram

de uma maneira muito especial.

É preciso que haja esperança.

Tenha esperança, pequeno cravo!

És bonito e não sabes.

Foi o anjo que falou.