Bom dia?
Cinco da manhã.
Através da janela, observo esse gato branco
deitado, com a barriga para cima
num telhado qualquer.
Lambendo-se nobremente.
Exalando uma inalcançável paz,
como se soubesse que tudo ao seu redor
não passa de merda,
e que mesmo assim, está tudo bem,
que não tenho com o que me preocupar,
que cada um é o que deve ser
e que eu não sou o único a ter passado por uma noite ruim.
Noites ruins são constantes,
e essa foi só mais uma.
Rolando no sofá durante a madrugada,
desejando somente voltar no tempo.
Ressaca e devaneios querendo me derrubar.
Pensar demais é o problema, ou é no mínimo parte dele.
Você não é especial, rapaz.
Nunca foi.
Quem sabe, o gato também teve uma noite péssima e já a superou?
Ele se distrai olhando pequenos pássaros girando no ar.
Aqueles belos olhos amarelos arregalados,
provavelmente pensando em como seria divertido caçar cada uma daquelas aves com cérebro de ervilha.
Mas assim como eu, toda a sua habilidade é esmagada pela vontade de não fazer nada.
Então, ele abaixa a cabeça e apenas repousa,
enquanto o sol ainda não o alcançou.
Repousa,
como se soubesse que eu o estou observando
e me desejasse calma e sorte.
Essa foi a visão mais próxima de algo puro e bom
que tive nas últimas semanas.
Me abaixo para colocar as meias
e quando me ergo, ele não está mais lá.
Os fortes raios de sol
finalmente alcançaram o telhado,
alcançaram também a minha janela.
É a hora de ir.