Direções

Eu me deito - é a hora da fantasia.

As mentes lá fora protestam o nascer de um azul despedaçado, roto, amargurado na pureza da rotina.

Em silêncio, eu rogo pelas verdades suprimidas nos gestos dos seus lábios, exclamadas no mirar dos seus olhos.

Sob a criação vertiginosa de encontros não realizados, de toques evitados, de sorrisos oferecidos, eu suplico calado as suas palavras nunca ditas.

O vazio das sílabas é tão cheio de mistério, tão irrequieto em seu lugar do nada, da inexistência dos por quês.

As páginas do meu calendário arrastam-se, prendem-se, quase que pedem para permanecer; eu rasgo as datas e amasso os papéis em que vão gravadas as suas letras, mas nunca os jogo fora.

É um mausoléu decrépito que me traça direções; são veredas, não caminhos, por onde sigo ofegante, buscando mais tua voz que a própria saída.

A porta não me diz nada.

As chaves não me bastariam.

Eu estou preso no seu silêncio.

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 28/06/2020
Reeditado em 10/09/2020
Código do texto: T6990042
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