Dias amargos que a solidão do confinamento apresenta.
'Não vou escrever versos doces...
só pra fingir que está tudo bem...'







'Não vou escrever versos doces,
não vou fingir que estou contente,
não estou, estou triste, e dentro
de mim, a minha alma quer chorar.'





Amargos são os dias que nos trazem lembranças,
que nos fazem recordar do que doeu.
Mas o tempo é remédio da fé, que nos cura,
pouco a pouco, até chegar a cicatrização total.

Mas tem lembranças tristes que nos trazem
um gosto amargo no coração, e um nó de choro
vem, a querer trazer aos olhos lágrimas de emoção,
e a voz que fala é em atropelos, porque falar
de certas lembranças é forçar uma cura que
precisa urgentemente acontecer.

Os dias de vivências em união e amizades foram muitos;
muitas pessoas, muitas presenças,
muito trabalho realizado.
Todos feitos com responsabilidade e dedicação;


Mas a jornada da vida é cheia de despedidas.
Partidas que vem e vão. Saídas e entradas.
Começos, fins, recomeços.

Vida é história que escrevemos
dentro de nós mesmos,
com o que fizemos dela,
o que aprendemos, o que ensinamos,
o que amealhamos.

Muitos amealham experiências.
Outros amealham crimes.
Outros tantos amealham bens,
e riquezas e pecados.

Cada um amealha o que quer,
o que consegue, no que aprende,
no que acredita, no que se dedica,
com a ajuda ou o atrapalho
que vai recebendo durante sua trajetória.


Hoje a tarde está cinzenta,
quente, sem vento.
Parece até que trago dela
o meu sentimento de desalento.

Num estar só de presenças humanas,
que me afasto, porque estar junto que cansa;
então venho e fico só,
pois assim quero,
assim nesse momento, preciso.


Mas o que foi que aconteceu?
O que me fez a subida dessa jornada
de progredir na vida?
De aprender, e aprender,
e ensinar, e saber?

Que eu trouxe de mais útil
para minha vida, além da independência
de ser dona do meu nariz?
(nem tanto, a sociedade é cobradora)


Que deixei pelo caminho,
que agora parece
que me faz tanta falta?

Pais, irmãos, filhas, maridos, amigos,
colegas de trabalhos, tudo, tudo,
ficando pela estrada, acumulada de bem querer.

Tudo passa!
É, realmente, tudo passa,
e em algum tempo da vida
acabamos ficando sós.

Não por opção, mas talvez
por consequência
desta vida tão cheia de exigências,
que acabamos nos cansando,
porque tudo passa,
e o corpo cansa, a mente cansa,
a alma cansa,
a vida passa, tudo vai embora..
e nós ficamos,
até que vamos,
uma hora,
também...


Estar só neste momento
não é uma opção. Mas uma condição
de vida conquistada.

Conquistei o meu monte Everest.
A subida foi bem interessante,
cheia de dificuldades e aventuras.
Mas, cá nesse meu topo de mundo,
sinto a grandiosidade do mundo,
da natureza, das pessoas,
em suas tão grandes e difíceis
e diferentes
peculiaridades.

Todos precisando de todos.
E todos querendo ser
independente de todos.


Mas acabamos, sempre, por perceber
que somos muito necessitados de nós mesmos,
e de tudo o que nos cerca,
inclusive das pessoas legais ou chatas;

Precisamos do serviço das pessoas.
Precisamos da atenção das pessoas.
Precisamos do calor humano.
Precisamos da terra
e de toda a natureza
que nos cerca.


E eu estou só,
porque onde cheguei
me fez estar em condição
de pensadora.

E os pensadores precisam de espaço,
de silêncio,
não gostam de interrupções.

Eis o que sou.
Uma pensadora de mim.
Querendo descobrir o que me faz feliz.
O que posso fazer, ainda,
para ajudar esse mundo,
as pessoas, o meu meio,
a minha família...


Descubro que sou amiga.
Que sou ouvido.
Que entendo.

Descubro que poucos me entendem.
E sou o silêncio que me cala,
nessa minha grande necessidade
de amar e ser feliz.


 
Maria Tereza Bodemer
Enviado por Maria Tereza Bodemer em 04/07/2020
Reeditado em 04/07/2020
Código do texto: T6996160
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