EU E O TEMPO
(Em tempo de quarentena)
 
Desde os primeiros dias do compulsório isolamento minha agenda social se esvaziou e uma nova rotina se instalou. Ando contemplativa, reflexiva... Agora, numa breve incursão pela casa, dou de cara com o tempo rindo da minha cara... Ah, o tempo! Ele que sempre me provocava e de mim se escondia, veio morar comigo, está mais compassivo, acorda tarde, não mais me apura como sempre fazia, senta-se à mesa e se acha no direito de planejar o meu dia. Ficamos amigos até!
Agora ele me deixa estudar, cozinhar, organizar, plantar, ler, escrever e, sobretudo, meditar. Agora consigo contemplar as belezas na natureza que antes eu nem enxergava porque ele não deixava. Agora o tempo encontrou um jeito de acordar os livros adormecidos e até pendura poemas nos varais das redes sociais. Mas sinto falta do calor humano, das reuniões, das comemorações, do som do riso, das vozes ao vivo e dos olhares que se entrelaçam numa roda de amizade. Bem que o tempo podia dar um jeito de amenizar a saudade! Ah, isso ele não faz!