Isso é alguma filosofia?

Tenho pouco aqui comigo que te possa oferecer.

Alguns escritos, alguns lidos, outros amontoados,

Alguns assimilados, alguns frutos de osmose,

Alguns devaneios, outros frutos de neuroses,

Alguns pingados de sabedoria auto-induzida

Aqui e acolá. Que nem sei se sábia,

Ou apenas refletida.

Tenho comigo uma filosofia de vida,

Versejada, proseada, prosaica e mal-arranjada.

Um pouco de nada, misturada ao pouco do que hoje eu vivo.

Há um fruto de uma carência, por solidão auto-induzida.

Há uma psicologia, feita de experimentações comigo mesmo,

Há uns floreios e mais não sei que outros quês.

Tenho momentos, instantâneos, pouca coerência.

É inconstância na abundância dos registros.

E não, não me conheço bem.

Sou alguém com dó de mim,

E sem dó de mim também.

Sou feliz e nem sei disso.

E sou triste por ser um egoísta

E um medroso.

Estou um pouco rancoroso.

Às vezes, sou amoroso,

Sou amargo, doce, intragável.

Lido, faço parte do gosto de alguém;

Ouvido, sou uma droga de Zé Ninguém.

E o pior é que é verdade.

E sou mais quem?

Quem me lê, acaba sabendo.

Porque estou, também,

Me descobrindo agora.

A partir dos frutos destas horas.

Descubro-me e me surpreendo,

Escrevendo.