Vírgulas onde não existem

Este arroubo inexplicável.

Este sorver de mim.

Esta dor registrada.

Este rancor ruim.

Esta falta patente.

Esta competência aparente.

A descrença minha nela.

Estas letras metálico-amarelas.

Esta torre de marfim.

Esta tela mal-pintada.

Este verde-musgo.

Este casaco sujo, fora de moda.

Esta roupa e o calçado apertado.

Isto tudo, enfim.

O pouco que tenho visto.

A falta do que quero escrito.

A vida que não vivi.

O sono do que desperto.

A morte, a morte.

O anseio que refreio.

O sonho, o sonho.

As letras que quero ler.

As letras que quero lidas.

A pessoa que quero ouvida.

O pouco espremido.

A essência buscada.

A beleza que vejo agora.

O despertar da consciência.

A cabeça que quero erguida.

O embate que agora enfrento.

O lamento, o lamento.

As pessoas a quem agradeço.

Aquelas que me desprezam.

Aquelas a quem não respondo.

Remoendo, remoendo.

O tudo que me fascina.

O que apreendo, o que apreendo.