Restou o vazio

Em que compasso marco o passo

em que passas à minha frente?

Estou carente. E em muita gente

que encontro

eu procuro o teu semblante.

Agora, como antes de haver te conhecido,

considero a minha vida esvaziada de sentido.

Quero de volta minha loucura,

a minha cura pra esse tédio.

O meu remédio é você.

Quando eu dizia que um dia

minha poesia morreria,

Eu não me referia à poesia que há em meu peito.

Foi o jeito que encontrei para dizer

que eu perderia a poesia que está aí contigo

e que a mim se aproximava quando via

o teu sorriso.

Agora, como antes de haver te conhecido,

ando sozinho nas ruas. Procuro abrigo

em tua lembrança,

que é o que de ti ficou comigo.

Procuro as tuas feições nos rostos dos que cruzo.

E tudo é falta nas ruas e avenidas que

me conduzem

à vida que hoje vivo.

Amigos me distraem, contam estórias, riem, bebem

nos bares.

Encontro casais formando pares, abraçados e entrelaçados.

Os invejo por não serem nós, por estarmos separados,

pelo modo em que se deu o nosso desenlace.

E me lembro do impasse formado entre os teus desejos

e os meus.

Te perdi, você me perdeu e me deu isto que agora te devolvo.

E de novo, ando só. E só, meu passo segue. Não te segue,

mas espera esbarrar contigo em alguma esquina.

Essa tem sido a minha esperança.

Não sei em que compasso segue o meu passo.

O teu, já perdi de vista. A minha longa conquista,

em nossos anos de namoro; o meu choro atrás do teu passo;

Meu afago último em teu rosto, e talvez você não lembre,

foi um gesto a mim tão significativo, tudo foi por água abaixo.

Meu afago expressava o que eu ainda te devotava.

Era alguém que ia ficar sozinho

e te mostrava, naquela hora, que perdíamos algo,

e que algo em mim morria.

Joguei fora tuas cartas, devolvi as fotografias.

E guardei apenas uma, na esperança de ter você de novo.

Ledo engano. Nunca mais te teria. Até porque nunca mais seria

o eu que te amou tanto e que, em pranto, naquela noite te deixou.

Obs: Eis que de repente me transporto e ouço as queixas do adolescente de 19 anos que um dia fui (ou sou?).